O Rebanho do Pastor

“Não temais, pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino” (Lc 12:32) Que palavras reconfortantes! Palavras ditas pelo Bom Pastor das ovelhas. Elas contêm um consolo gracioso para todos os membros de Seu rebanho, comprados por Seu sangue. O contexto em que essa promessa aparece contém uma advertência contra a cobiça. A parábola do rico insensato foi contada pelo Senhor para ensinar que as riquezas não são a coisa mais importante na vida, mas que ser rico para com Deus é a verdadeira sabedoria. Ser rico em graça, rico em fé, rico em boas obras é a marca de um homem verdadeiramente rico.

Nessa passagem, o Senhor Jesus também destaca para o crente a importância de buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e, em seguida, acrescenta a promessa de que aqueles que fizerem isso não precisarão se preocupar com as necessidades comuns da vida. “Vosso Pai sabe que necessitais destas coisas”. Essa garantia deve dissipar toda a ansiedade na vida do crente. Esse “não temas” da promessa é o clímax de tudo o que foi dito antes. Vamos observar três coisas nesse versículo:

A Símile de Cristo:

Seu povo é um rebanho, um pequeno rebanho. Os Seus sempre foram poucos em número, em contraste com o vasto número de professantes. Não precisamos nos surpreender com isso, pois o nosso Senhor traído nos lembra, em Mateus 7:14, que poucos estão no caminho estreito. Em todas as Escrituras, os crentes são comparados a ovelhas. É verdade para eles: “Todos nós andamos desgarrados como ovelhas” (Is 53:6) Lemos também em 1 Pedro 2:25: “Porque éreis como ovelhas desgarradas, mas agora tendes voltado para o Pastor e Bispo das vossas almas”. Cristo é o Bom Pastor que deu Sua vida pelas ovelhas e, por meio da fé Nele, nos tornamos membros do rebanho que Ele comprou com Seu próprio sangue. Na linguagem do hino, podemos dizer:

“Eu estava perdido, mas Jesus me encontrou,
Encontrou a ovelha que se desgarrou;
Lançou Seus braços amorosos ao meu redor
Levou-me de volta ao Seu caminho.”

No Evangelho segundo João, capítulo 10, nosso bendito Senhor nos lembra que somos “Suas próprias ovelhas” e nos assegura que estamos seguros Nele; portanto, somos membros desse único rebanho.

A Exortação de Cristo:

“Não temas”, disse Ele, pois o Senhor Jesus conhecia o coração dos Seus. Ele sabia que eles estariam cheios de temores de todos os tipos: temores por serem poucos, temores por causa de seus inimigos, temores por causa das muitas dificuldades no caminho. Ele respondeu a esses muitos temores dando-lhes palavras de conforto, ânimo e promessa. A razão pela qual nunca devemos temer é que o Grande Pastor das ovelhas cuida do rebanho pelo qual Ele morreu com um cuidado doce e incansável.

(a) Não precisamos temer a pobreza: O profeta Isaías o retrata alimentando Seu rebanho como um pastor. Nossa passagem nos lembra que Deus cuida até das aves do céu: “Deus as alimenta” (verso 24) Certamente, em Cristo, somos muito melhores do que as aves. “Apascentarei o meu rebanho, e o farei repousar”, declara o Senhor por meio de Ezequiel (34:15) O cristão certamente não precisa temer a pobreza.

(b) Não precisamos temer o perigo: Cristo, como o Pastor, em Ezequiel 34:25, diz: “Farei cessar as feras…; e elas (as Minhas ovelhas) habitarão em segurança… e dormirão nos bosques”. Novamente, Ele diz: “Elas habitarão em segurança e ninguém as amedrontará” (verso 28) Como cada membro do pequeno rebanho pode dizer: “O Senhor é o meu Pastor”, eles também podem dizer em suas experiências diárias: “Não temerei mal algum”. Como o próprio Mestre, podemos ser desprezados e rejeitados, zombados e ridicularizados, mas como Deus é o nosso Deus e Cristo é o nosso Pastor, aqueles que são por nós são maiores do que todos os que são contra nós. O mundo, a carne e o diabo são inimigos poderosos, mas com Cristo como nosso Pastor não temos nada a temer. O “Não temas” do Mestre deve acalmar nossas ansiedades.

(c) Não precisamos temer a morte: Cristo, como o Pastor das ovelhas, saiu da sepultura. “Ele passou pela morte e gloriosamente confundiu todos os nossos inimigos”, a fim de “que, pela morte, destruísse aquele que tinha o poder da morte, que é o diabo, e livrasse os que, pelo medo da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2:14) “O aguilhão da morte é o pecado”, mas Cristo sofreu pelo pecado; assim, Ele removeu o aguilhão para cada um de Seus filhos. Por meio da fé nEle, podemos dizer em triunfo: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo” (Sl 23:4)

A Certeza de Cristo:

Deus é nosso Pai, e é Sua vontade nos dar o reino. Temos a certeza agora de que, em virtude do novo nascimento, pertencemos ao reino. Portanto, estamos aguardando o dia em que, em toda a plenitude da abençoada realidade, herdaremos o reino preparado para nós desde a fundação do mundo.

Vinte mil ovelhas foram enviadas pelo rei da Espanha como presente para seu irmão, Jorge III, da Inglaterra. James’ Park, em Londres, sob a responsabilidade de pastores que, enquanto as observavam, sentavam-se sob as grandes castanheiras do local. Os rebanhos espalhados estavam misturados aqui e ali em diferentes partes do parque. Em um determinado sinal, os pastores gritavam em voz alta. As ovelhas aguçaram as orelhas ao som e, em seguida, cada uma saltou para a frente, correndo para o local onde estava seu próprio pastor. Elas não tiveram dificuldade em reconhecer sua voz e em responder ao seu chamado. O mesmo acontece com os membros do pequeno rebanho de nosso Senhor. Eles estão espalhados em diferentes partes do mundo, misturados e se alimentando em muitos campos de pastagem diferentes, mas conhecem Sua voz. Como verdadeiras ovelhas de Seu pasto, elas estão aguardando o último chamado, o grito do Chefe dos Pastores; quando, por mais distantes que estejam uns dos outros, eles, tanto os jovens quanto os idosos, serão reunidos a Ele de todas as terras. Os cordeiros, assim como as ovelhas, estarão eternamente seguros. A oração do Divino Pastor deve finalmente ser cumprida: “Para que todos sejam um” e “Haverá um rebanho e um Pastor” (Jo 10:16) O deserto uivante, com seus perigos e aflições, será para sempre passado e esquecido no desfrute da glória eterna. Enquanto isso, que o “Não temas” do Mestre acalme nossos corações temerosos com a certeza do fato de que tudo está melhor do que antes.

“Gracioso Salvador, Santo Pastor!
Os pequeninos são queridos para Ti;
Reunidos em Teus braços defendidos;
Em Teu seio podem estar
Docemente, carinhosamente, com segurança, cuidados;
Livres de toda carência e perigo.
Terno pastor, nunca os deixe
Do Teu aprisco para se perderem;
Que nenhum pecado ou tristeza os aflija;
Que eles andem pelo caminho estreito;
Assim os dirija, assim os proteja;
Para que não caiam como presas fáceis.”

T. G. Wilkie — “Alimento Para o Rebanho”, janeiro de 1955.

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