A Verdadeira Sabedoria

Tiago 3:13-18 — Bernard Shaw, grande escritor da Irlanda do Sul, ganhador do prêmio Nobel, em 1925, é o autor da seguinte frase realista e atual:

“O maior pecado para com o próximo não é odiá-lo, mas ser-lhe indiferente; esta é a essência da desumanidade.”

Amados, será possível existir indiferença, inveja, sentimento faccioso entre irmãos? Infelizmente sim, havia na época dos apóstolos, e continua em nossos dias. Mas como pode um cristão ser indiferente àqueles que Deus mesmo tem mostrado amor? Como pode o servo desprezar seu conservo, se ambos são alvo do amor de Cristo? Como podem querer ficar separados e indiferentes se Cristo foi preparar-nos lugar?

Assim, alguns poucos seguem mostrando esse sentimento faccioso, justificando sua falta de amor e de respeito por outros irmãos e igrejas por meio do que chamam de ‘convicções’, ou seu ‘conhecimento e sabedoria’.

Mas o mais triste é que às vezes não é por causa da doutrina que se dividem dos demais, mas por motivos pessoais, antipatia, orgulho, falta de humildade e amor suficientes para resolver um problema de relacionamento com seu irmão! E com esta atitude, entristecem ao Senhor (Pv 6:16-19).

Irmãos, que conhecimento ou que sabedoria nos leva a sermos indiferentes, e a excluir nosso irmão? (Rm 14:10)

A Palavra nos mostra claramente que não devemos cair no erro de imitar aqueles que são indiferentes, ou que insistem em permanecer indiferentes, excluindo e desprezando seus irmãos. Se deixam de orar por irmãos e outras igrejas locais, se deixam de cooperar com estas igrejas, não vamos imitá-los. É difícil entender como irmãos que deveriam ter aprendido a cingir-se de humildade (1Pe 5:5) sustentam orgulhosamente o sentimento de que são os ‘instruídos em oposição aos ignorantes’, os ‘virtuosos em oposição aos maus’, os ‘espirituais em oposição aos carnais’.

Não, não fomos chamados a isso. Fomos chamados a ser exemplo dos fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza (1Tm 4:12).

Não deveríamos ser um, juntamente com Cristo? Amando, respeitando, considerando e suportando uns aos outros em amor? (Cl 3:12-17)

O orgulho religioso pode levar o crente a pensar em si mais do que lhe convém, e consequentemente, a rejeitar tudo aquilo que não combina com a sua própria’sabedoria’. Parece, às vezes, que este orgulho leva as pessoas a olharem para outras igrejas locais como concorrentes, e assim procuram exaltar sua própria sabedoria, e como se orgulham de sua conduta e de seus ensinadores! E camuflado sob a ideia de ‘proteger o rebanho’, proíbem a comunhão entre irmãos e igrejas, causando grande prejuízo na obra de Deus. Onde há indiferença, inveja e sentimento faccioso, sempre há confusão, tristeza, injustiça e mentira. Não é hora de separar o joio do trigo (Mt 13:24-30), não cabe a nós esta tarefa, certamente não temos capacidade nem sabedoria para tal julgamento.

Muito prejuízo tem sido causado por aqueles que, desobedientes à vontade de Deus, tentam com as próprias mãos arrancar o joio e acabam por arrancar também trigo.

Não vamos perder de vista o plano de Deus para nós, ficar ocupados com a nossa ‘perfeição’ e ‘sabedoria’ é perder o alvo principal, que é Cristo. O que vale mesmo é o nosso relacionamento com o Senhor Jesus Cristo e nossa entrega a Ele, e não a fidelidade às nossas ideias. A perfeição cristă não é, e nunca será, perfeição humana. Uma vida digna de Cristo se manifesta no amor uns para com os outros, na humildade e na comunhão com os irmãos.

Irmãos, não podemos nos gloriar por não visitar aquela igreja vizinha; não podemos nos gloriar por não orar por irmãos de outras localidades; não podemos nos gloriar por não cooperar com a obra de Deus em outras cidades; não vamos mentir contra a verdade! Esta sabedoria é terrena, animal e diabólica. Que decisão terrível esta de nos separar de outros irmãos, de resolver não receber irmãos que estão em comunhão na sua localidade, escolher não ter comunhão com aqueles que Cristo comprou com Seu precioso sangue. A autonomia e autoridade das igrejas não tem lugar aqui! É possível ser exemplo dos fiéis sem desprezar os irmãos! Se cremos de fato que o modelo de Igreja apresentado no Novo Testamento é viável e válido para todo o povo de Deus, também cremos que todos os nossos irmãos e irmās devem ser alvo do nosso amor e consideração, e devemos cumprir a nossa responsabilidade de fazer o bem a cada um deles, quando surgirem as oportunidades! (Gl 6:7-10)

Aquele que é verdadeiramente sábio inteligente não precisa impor seu conhecimento, nem desprezar os ‘ignorantes’, mas deve sim mostrar sua sabedoria pelo bom trato e mansidão. Este espírito humilde é a verdadeira sabedoria.

É impossível ser sábio sem manifestar a vida de Cristo, uma vida que evidencia o fruto do Espírito (Gl 5:22-23). Nosso Salvador, o Senhor Jesus Cristo, não era indiferente, nem orgulhoso ou arrogante, mas manso e humilde (Mt 11:29).

A sabedoria que vem do alto é pura (ausente de conduta imoral e presença de integridade). E pura em atitudes, palavras e pensamentos. É pacífica (que ama a paz, sossegada). Se somos sábios, sendo possível, no que depender de nós, devemos ter paz com todos os homens (Rm 12:18).

Devemos fazer de tudo para manter a paz, sem, contudo, abandonar a pureza (Hb 12:14). A sabedoria que vem do alto é moderada (qualidade que consiste em evitar exageros). Tranquila e não tirana, gentil e não grosseira. E tratável (amável, amigável). A sabedoria que vem do alto não é teimosa, relutante e inflexível, mas sim pronta a conversar e buscar a reconciliação. É cheia de misericórdia e de bons frutos.

É sem parcialidade (ato de favorecer injustamente um lado em prejuízo do outro) (1Tm 5:21) e é sem hipocrisia (ato de fingir o que não é, ou não sente, ou não crê).

Amados irmãos, se resolvemos não cooperar com a obra de Deus em alguma localidade, seja longe ou perto, se não recebemos mais certos irmãos ou fazemos de tudo para que não se sintam bem-vindos, saibam que esta sabedoria não vem do alto. Nós podemos, com certeza, perseverar na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações, sem que seja necessário desprezar nossos irmãos.

Precisamos tomar o Senhor Jesus como exemplo; Cristo sempre buscou a vontade do Pai, que o havia enviado (Jo 5:30). Se esquecemos do amor e compaixão do Senhor, da sua paciência até mesmo conosco, corremos o perigo de dar muita ênfase a coisas pequenas e assim criar conflitos. Tenhamos paciência com aqueles que pensam um pouco diferente de nós, podemos confiar no Senhor da seara, Cristo mesmo os encaminhará. Nosso alvo deve ser que todos nós possamos conviver, de maneira condizente com a fé que professamos, somos um corpo, para glória de Deus.

Que cada um de nós possa ser verdadeiramente sábio no Senhor, sendo exemplo dos fiéis, e procurando ensinar a Palavra de Deus, não por força, nem por violência, mas pelo Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade (Jo 16:13)!

Que conhecimento ou que sabedoria o levam a ser indiferente?

Autor: Alexandre Maxwell Mendes
Fonte: “A Senda do Cristão”, 238.

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