Deus Revelado e o Pecado Removido

“Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1:18 ) — É lógico que nenhum homem jamais viu a Deus. Podemos ver uma coisa se ela tiver vinte milhas de comprimento ou largura e se for uma substância sólida a ser pesada. Mas não podemos aprisionar o vento para medir suas dimensões, ou dizer onde a luz termina? Deus é um Espírito; e o céu, e o céu dos céus não pode contê-Lo. Ele está presente em todos os lugares deste vasto Universo, Ele é maior do que tudo o que Ele criou, não sujeito a mudanças ou rupturas.

Por onde poderíamos começar a sondá-lo? Podemos muito bem perguntar isso, enquanto lemos Jó 38. Ele é “o Rei dos séculos, imortal, invisível” (1Tm 1:17). Mas quando chegou o tempo em que Deus Se revelaria em tudo o que Ele é, tanto em natureza como em caráter, havia na Divindade um meio adequado de fazê-lo, pois o Filho Unigênito, que estava no seio do Pai, em toda a intimidade do Seu Divino e eterno relacionamento, sabia tudo o que Deus é.

Estava na mente de Deus que Seu Filho se tornaria Homem, e que no Homem, e para os homens, deveria ser conhecida toda a profundidade da natureza Divina e todo o brilho da glória Divina. Não podemos compreender isso por meio de argumentos; é um daqueles fatos simples, mas estupendos, que negam a análise. Não podemos definir a vida, nem medir o espaço, nem explicar a Eternidade. Então, sem controvérsia — Grande é o mistério da piedade.

Quando vejo Deus na Pessoa de Seu Filho, uma tenra criança nos braços de Maria, fico estupefato e só posso clamar:

“Grande é o mistério.”

Quando eu O vejo, na reclusão da casa de um carpinteiro, crescendo em sabedoria e estatura, e no favor de Deus e dos homens, mas verdadeiramente Deus manifestado em carne, “Grande é o mistério”.

Quando vejo esta Pessoa Divina Se tornando amiga dos pobres pecadores para transmitir-lhes aos ouvidos, a santa mensagem que Ele trouxe, chamando-os cansados e oprimidos, tocando os leprosos, curando os endemoninhados, para expressar a misericórdia de Deus para com eles, vejo quão “Grande é o mistério.”

Quando finalmente o vejo odiado e desprezado pelos homens, e se submetendo a isso; cuspido e açoitado e crucificado; e na hora de Sua profunda tristeza e sofrimento abandonado por Deus por causa do meu pecado, suportando a ira e o julgamento por mim, para que Deus fosse glorificado, então curvo minha cabeça e em profunda auto-humilhação digo:

“Grande é o mistério.”

Deus foi plenamente revelado em Seu Filho. Mas agora o Filho ressuscitou, está glorificado, assentado no trono do Pai como Homem; de modo que há um prazer presente e contínuo em estudá-Lo como o Revelador do Nome de Seu Pai. Mas logo outro grande fato vem à tona, pois lemos que:

“No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (Jo 1:29)

Somente o Evangelho de João fala do soldado que perfurou o lado do Senhor Jesus na cruz, e é também o único Evangelho que fala dEle como o Cordeiro. Além disso, a página que O descreve como o Cordeiro de Deus está repleta de Suas glórias divinas.

Enquanto pensamos nEle em Seu caráter sacrificial como a Vítima, morta para assegurar a glória de Deus e abolir o pecado, é importante lembrar Quem é o Cordeiro. Ele é Aquele, o único que poderia glorificar Deus sobre o pecado; e ninguém, exceto Aquele que é homem, poderia expiar os pecados dos homens. João disse: “Após mim vem um homem…” (verso 30). Mas ele acrescentou: “Ele era antes de mim.” A primeira informação fala de um Ser que é verdadeiramente Homem em Sua natureza santa; a segunda refere-se à verdade da glória eterna de Sua Divindade, conforme descrito na parte anterior do capítulo.

Tal é o Cordeiro. É um título tirado dos tipos e sombras do Antigo Testamento e, especialmente, de Gênesis 22. Este é o Cordeiro de Deus. Ele é Aquele que nasceu quando os cordeiros dos homens tiveram seu dia e serviram ao seu propósito como prenúncios do nascimento do Cristo. Foi Ele que Deus providenciou para Si mesmo, como disse Abraão, para o holocausto. Ele estava realmente aqui em fraqueza, como a própria figura de um Cordeiro indica, mas a Ele foi confiada a poderosa tarefa de garantir a glória de Deus e de remover o pecado do mundo. Mas não foi um cordeiro vivo no Antigo Testamento que protegeu Israel do anjo destruidor no Egito; foi o sangue de um cordeiro morto. Também não é a vida do Senhor Jesus aqui, embora ela seja sem mácula, sem mancha e incontaminada, que fez a nossa redenção, mas o precioso sangue de Cristo (1Pe 1:19).

Todos os habitantes celestiais dão testemunho do seu valor (Ap 5:8-12). Os representantes dos pecadores salvos na terra, e as miríades dos anjos também; os primeiros como tendo experimentado sua eficácia, e os segundos como espectadores dos caminhos de Deus e cheio de louvor e adoração. É ao Cordeiro a quem Deus confiou a tarefa de trazer ordem ao caos do pecado e de estabelecer Sua autoridade suprema onde o homem e Satanás a recusaram de forma tão grosseira e ousada. É Aquele que sofreu aqui para a glória de Deus e pelos nosso pecado, que é o centro de toda administração no trono de Deus; e o dia da Sua bendita intervenção nos assuntos do mundo será o dia em que Satanás será preso e não haverá mais maldição.

Do trono de Deus e do Cordeiro procederá a vida, a cura, a luz e o serviço santo e feliz como ninguém jamais viu aqui na terra.

“Ora, vem, Senhor Jesus” (Ap 22:20).

W. H. Westcott

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