Decidindo a Dúvida

“É certo para mim, como cristão, fazer isso ou ir até lá?” é uma pergunta feita com frequência, especialmente por jovens, que às vezes ficam intrigados com o caráter justo ou injusto de algum curso de ação proposto. A pergunta: “É certo eu roubar um banco (mesmo que eu dê o ‘dinheiro’ para missões estrangeiras)?” é claramente respondida na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (Ex 20:15; Ef 4:28), mas há problemas de conduta que são questionáveis ou duvidosos e representam problemas reais que devem ser enfrentados por todos nós.

No início de nosso estudo, queremos esclarecer quatro coisas:

  1. A Bíblia tem a resposta definitiva ou os princípios orientadores para cada circunstância e problema da vida.
  2. Embora seja verdade que o cristão está “debaixo da graça” (Rm 6:14), inquestionavelmente a posição mais elevada dos tempos, a graça tem suas regras, estando o crente “debaixo da… lei de Cristo” (1Cor 9:21).

Nove dos Dez Mandamentos são reiterados no Novo Testamento, onde sua aplicação é bastante ampliada. As cartas de Paulo contêm muitas restrições, tabus e proibições (Ef 4:17; Cl 3:5-4:6), que são apresentadas de forma positiva ou negativa. Embora o cristianismo seja enfaticamente positivo, o negativo não é de forma alguma eliminado. A graça, ou liberdade em Cristo, não é licença, embora alguns a tenham distorcido dessa forma. No entanto, essa visão distorcida da graça não anula de forma alguma seu poder motivador.

Charles C. Ryrie disse muito bem: “A graça não apenas fornece o motivo, mas também o padrão para a conduta atual. Deus deu instruções claras em Sua Palavra a respeito da caminhada diária do crente, e esses ensinamentos da graça, totalmente separados de qualquer outra regra de vida nas Escrituras, são completos em si mesmos. Além disso, esses padrões são os mais elevados de toda a Palavra de Deus e, embora a maioria dos cristãos admita esse fato, às vezes há ignorância dos critérios específicos que Deus estabeleceu para a vida diária sob a graça” (Our Hope, janeiro de 1953, p. 494).

  1. Deve haver uma disposição para fazer a vontade de Deus (Jo 7:17).

“Talvez noventa por cento do conhecimento da vontade de Deus seja estar disposto a fazer Sua vontade antes de saber qual é” (Donald Grey Barnhouse).

  1. Em espírito de oração, acredite que o Senhor o guiará (Jo 16:13; Sl 25:9; 32:8; 48:14; Is 58:11). Agora vamos abordar dois temas principais no desenvolvimento de nosso assunto vital, sendo o primeiro

Perguntas a serem feitas e respondidas

  1. Isso glorificará a Deus (1Cor 10:31)? Se o assunto duvidoso for algo sobre o qual a bênção do Senhor não pode ser verdadeiramente pedida, então é melhor abandoná-lo. Algumas coisas podem não ser erradas em si mesmas, mas podem ser mais ou menos. Algumas coisas podem não ser erradas em si mesmas, mas pelo fato de serem praticadas em lugares ímpios com pessoas ímpias, a participação nelas nos tornaria inimigos da cruz de Cristo. Não se pode dizer que essas coisas glorificam a Deus. A glória de Deus é a manifestação de qualquer um ou de todos os Seus atributos, e glorificá-Lo é manifestar Seu caráter santo.
  2. É semelhante a Cristo (Ef 5:1; Jo 1:18; 14:9; 1Pe 2:21)? Está de acordo com o padrão de vida de nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 4:34)? Isso representa a forma de glorificar a Deus.
  3. É um peso (Hb 12:1-2)? G. Campbell Morgan disse que “as coisas que atrapalham não são necessariamente baixas ou vulgares. Elas podem ser, em si mesmas, coisas nobres, intelectuais e belas. Mas se a nossa participação em qualquer uma delas obscurece nossa visão do objetivo final no propósito de Deus, nos prende em nossa corrida, torna nossa caminhada menos determinada e firme, elas se tornam pesos e impedem”.
  4. Ela tende a escravizar (1Cor 6:12)? Aqui, a questão não é o mal que ela fará, mas sim o bem que ela representa. As coisas podem ser bastante lícitas em si mesmas (por exemplo, leitura secular, esportes, TV, hobbies), mas, por ocuparem tanto o nosso tempo, negligenciamos assuntos mais importantes. Muitos se entregam habitualmente a alguma coisa, mas afirmam que não são escravos dela. Por que não desistir disso só para provar?
  5. Isso me fortalecerá contra a tentação? Frequentar lugares ou envolver-se em práticas que nos expõem à tentação são coisas que devem ser evitadas na vida cristã (Mt 6:13; Tg 1:13-15).
  6. É conveniente (1Cor 10:23)? É algo proveitoso que honrará a Deus e ajudará meu próximo?
  7. É edificante (1Cor 10:23; 2Cor 10:8)? Ela desenvolverá nosso caráter cristão, serviço e testemunho, e nos permitirá edificar a igreja local?
  8. Isso é característico do mundo ou do Pai (1Jo 2:16)? Se nosso curso de ação proposto for característico do mundo, temos uma resposta clara em 1 João 2:15. Não percamos de vista as advertências da Bíblia em casos como o de Demas (2Tm 4:10), nem deixemos de manter diante de nós exortações como as palavras de Colossenses 3:1-2.

Chegamos agora ao segundo aspecto principal de nosso estudo

Princípios a serem apreendidos e aplicados

Em Romanos 14, o Apóstolo Paulo trata detalhadamente do assunto das coisas duvidosas e, nesse importante capítulo, há vários princípios vitais a serem apreendidos e aplicados, os quais queremos considerar brevemente nesta segunda e última divisão principal de nosso assunto.

  1. A liberdade de julgamento (Rm 14:3). Nenhum cristão tem o direito de julgar outro cristão, ou cristãos, em assuntos sobre os quais ele tem opiniões opostas. O simples fato de alguém dizer que uma coisa é errada não significa que ela seja.
  2. O cristão deve prestar contas somente a Deus (Rm 14:4, 12). Somente o Senhor Jesus Cristo tem o direito soberano sobre nossas ações. Seja ele papa, arcebispo, bispo, ancião ou ministro, na análise final das coisas, não somos responsáveis perante nenhum homem, mas somente perante Deus.
  3. O direito de convicção pessoal (Rm 14:5). Será que realmente tomamos nossas próprias decisões ou seguimos o padrão das opiniões ou ações de outra pessoa?
  4. A tolerância de outros crentes em questões duvidosas (Rm 14:4, 10, 13). Devemos considerar as ações de nossos irmãos da mesma forma que gostaríamos que eles nos considerassem em nossas ações. Não é nossa prerrogativa criticar e julgar as ações de nossos irmãos, a menos que a Palavra de Deus seja claramente violada e a disciplina seja necessária (1 Co 5).
  5. O direito e a responsabilidade de limitar nossa liberdade por amor (Rm 14:13, 21; 13:10; 15:1; 1Cor 8:13). Nenhum homem vive para si mesmo (Rm 14:7), e o crente tem o direito e a responsabilidade, por amor, de abrir mão de seus direitos em favor de um irmão mais fraco. Devemos ordenar nossa vida de forma que ela nunca seja um obstáculo ou uma armadilha para outros crentes (Rm 14:13, 21), o mesmo se estendendo aos incrédulos (1Cor 10:32; Cl 4:5).

Temos um exemplo esplêndido desse princípio no Apóstolo Paulo (1Cor 9:19-21) e, em todas as nossas associações, o quanto precisamos nos apropriar da bendita promessa de Tiago 1:5, dia após dia.

  1. “Na dúvida, deixe-o de fora” (Rm 14:22-23). Durante meus dias de ensino médio na Stony Brook School for Boys, em L.I., Nova York, tive um professor de inglês excepcionalmente bom, o Sr. Pierson Curtis (neto, aliás, do famoso autor, editor e professor da Bíblia, Dr. A. T. Pierson). Lembro-me muito bem do que o Sr. Curtis disse, ao nos instruir sobre o uso de vírgulas em nossa redação: “Na dúvida, deixe-as de fora”. Esse é exatamente o princípio apresentado aqui. Sempre dê a Deus, não a Satanás ou a você mesmo, o benefício da dúvida.

Se, depois de fazermos todas as perguntas pertinentes e aplicarmos todos os princípios das escrituras, ainda não tivermos certeza sobre um assunto, resta-nos continuar orando para obter a orientação do Senhor sobre o que Ele deseja que façamos (Sl 84:11; Fp 4:6-7; Tg 1:5, 7).

Talvez o segredo mais simples de todo esse assunto esteja nas palavras de F. W. Grant, que disse certa vez: “O único teste de uma coisa é como ela aparece na presença de Cristo”.

W. Ross Rainey – “Alimento Para o Rebanho”, janeiro de 1968.

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