Que Horas São?

Que Horas São?Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Romanos 13:12 – ARA [1]).

Leitor, você provavelmente conhece a história do naufrágio de São Paulo (Atos 28). Você se lembra como o apóstolo e seus companheiros foram sacudidos pela tempestade durante treze dias. Eles não viram nem sol nem lua por muitos dias. Toda esperança acerca de sua salvação foi perdida. Mas você se lembra de que quando o décimo quarto dia se foi, por volta da meia-noite, os marinheiros pressentiram estar próximos de alguma terra? Eles lançaram a sonda e mediram vinte braças de profundidade. Um pouco mais adiante, lançaram de novo e mediram quinze braças. Então, a fim de que não encalhassem sobre rochas, lançaram quatro âncoras da popa, e esperaram o dia clarear. Pense que noite ansiosa deve ter sido aquela! Quão frequentemente alguma daquelas 276 almas a bordo do grande navio de Alexandria devem ter dito: “como vai a noite? Que horas são?“.

Você provavelmente já ouviu sobre a Batalha de Waterloo. Você sabe que o Duque de Wellington lutou aquela batalha crendo que os Prussianos viriam à esquerda de seu exército e os ajudariam contra os Franceses. Mas o caminho era longo. As estradas eram ruins. A noite se aproximava antes que os Prussianos pudessem aparecer no campo de batalha. Nesse meio tempo, a batalha aumentou. Hora após hora nossas forças eram dizimadas pelo furioso ataque inimigo francês. Um após outro, homens valentes eram levados feridos ou mortos para fora do campo de batalha. Pense quão ansiosa deve ter sido aquela tarde! Como o sol e as sombras não devem ter sido observados! Como o relógio não deve ter sido consultado, e como os olhos do general voltaram-se para sua esquerda! Como os homens não devem ter pensado na ansiosa questão: “que horas são?”. Você provavelmente já esteve diante do leito de alguém por quem tinha grande afeto. Você o viu entre a vida e a morte, e enfrentou semanas de doloroso suspense. Você se assentou e observou a luta entre o corpo e suas enfermidades e sentiu o miserável desamparo de não poder fazer nada a não ser observar. Acaso você não sabe quão lentas são as horas em uma situação como estas? Acaso não aparenta o relógio ter parado e o sol esquecido de nascer? Acaso você não disse com frequência, “quando o médico virá novamente? A manhã nunca vai aparecer? Que horas são?”.

Leitor, você e eu estamos em um mundo que está rapidamente indo de encontro ao dia do julgamento. Há uma hora diante de nós quando a terra e suas obras queimarão, e seus habitantes comparecerão todos perante o tribunal de Cristo. Há um dia porvir cuja importância excede àquela de um naufrágio, batalha ou doença. Certamente, devemos passar a pensar neste dia. Estamos prontos para ele? É possível que estejamos vivos quando ele se manifestar? Será que este dia está ainda distante ou estaria ele perto de nós? Que horas são?

Venha comigo hoje, e consideremos os pensamentos de um apóstolo inspirado sobre este solene assunto. Ele diz, “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz”. Estas palavras deveriam inundar nossas consciências como o toque de uma trombeta. Eles devem despertar nossas mentes adormecidas para a percepção das realidades eternas que estão diante de nós. Elas nos chamam a deixar de lado toda irresponsabilidade, protelação e descuido a respeito do nosso Cristianismo. Elas nos convocam a andarmos mais perto de Deus.

Há quatro coisas que vêm à minha mente pelas palavras citadas.

I. Você tem aqui a presente condição deste mundo – Ainda é noite.

II. Você tem a condição do mundo porvir – O dia em breve vem.

III. Você tem o tempo em particular em que a nossa sorte está lançada – Vai alta a noite, e vem chegando o dia.

IV. Você tem o dever de todos os crentes que sabem a respeito deste tempo – eles devem despojar-se das obras das trevas e revestir-se das armas da luz.

Sobre cada um destes quatro pontos eu tenho algo a dizer.

I. Primeiramente, consideremos a presente condição deste mundo.

O apóstolo Paulo o chama de “noite”. “Vai alta a noite”.

Não tenho dúvidas de que estas palavras soam estranhas a algumas pessoas. Eles se surpreendem que o ano de 1854 seja chamado de “noite”. Eles estão vivendo em dias de aprendizado, ciência, civilização, comércio, liberdade e conhecimento, estradas de ferro, fábricas, gás, eletricidade, máquinas a vapor, educação para todos, e livros a preços acessíveis. Eu sei disso tudo, e sou grato por isso. Não obstante, eu digo que nas coisas de Deus este mundo está em um estado de “noite”.

Creio que Deus olha para este nosso mundo girando ao redor do sol, e conforme ele olha, ele pronuncia “densas trevas”.

Creio que os anjos voam para lá e para cá e reportam de tudo o que veem em nosso mundo, e seu relatório constante é “densas trevas”.

E eu estou certo de que os crentes no Senhor Jesus em cada lugar são unânimes neste assunto. Eles clamam e suspiram pelas abominações que veem ao seu redor. Para eles, o mundo aparenta estar sob “densas trevas”.

Não está escuro nas terras pagãs? Dois terços deste mundo estão em rebelião aberta contra Deus e Seu Cristo. Dois de cada três habitantes deste mundo não têm Bíblia, nem Evangelho, nem conhecimento, nem fé ou esperança. Eles são cruéis, enganadores, imorais, impuros, mundanos, sensuais, diabólicos, idólatras, supersticiosos. Certamente isso é noite.

Não está escuro em muitos países que professam ser Cristãos? Dois terços dos crentes professos na terra estão desalinhados da fé. Sua religião não é simplesmente bíblica. Adicionaram muitas coisas que não podem ser encontradas nas Escrituras. Deixaram muitas coisas que a Bíblia ordenou claramente. Existem milhões que honram a Virgem e os santos ao invés de Cristo. Existem milhões de pessoas batizadas que nada sabem da Bíblia, e não tem a menor ideia da salvação contida no Evangelho. Certamente isso é noite.

Não está escuro em nosso próprio país no presente dia? Quanto pecado existe na Bretanha Protestante e quão pouco de Deus! Quanta infidelidade declarada, ignorância pagã, bebedeiras, violação do Domingo, blasfêmias, fraudes, mentira, falta de compromisso estão semanalmente clamando contra nós diante do Senhor dos Exércitos! Quantas pessoas na Grã-Bretanha não frequentam sequer um local de adoração! Quantos vão à Igreja ou Capela meramente por formalidade! Quão poucos levam a sério a salvação de suas almas! Quão poucos têm qualquer evidência de uma fé salvadora em Cristo, e uma obra real do Espírito em seus corações! Certamente, mesmo entre nós, é noite!

Não existem tantas trevas sob os olhos de cada crente verdadeiro? Vá para a mais piedosa, calma e ordenada paróquia em nosso país neste momento. Pergunte a qualquer filho de Deus bem informado que ali reside, quantos cristãos verdadeiros ela contém e qual a proporção de convertidos e não convertidos. Marque bem a resposta que ele lhe dará. Eu duvido se você encontrará uma paróquia na Grã-Bretanha onde um terço das pessoas são convertidas. E se tal for a situação das paróquias que são com a árvore frondosa, qual será a situação das que são como árvores secas? Certamente isso é noite!

Leitor, é de nenhum proveito negar estas coisas. Humilhante que possa ser à orgulhosa natureza humana, a palavra do apóstolo é estritamente verdadeira – o tempo presente é noite. O incrédulo pode não perceber. O homem desprovido da graça pode não compreender. Os olhos cegos não enxergam diferença entre a meia-noite e o meio-dia. Os ouvidos surdos não diferenciam dissonância de música suave. O membro mortificado não sente nem frio nem calor. Mas eu creio que os filhos de Deus entenderão. O povo do Senhor Jesus Cristo sabe por experiência que a hora presente é noite.

Estamos em um tempo frio para os crentes. Eles de deparam com muitas coisas que esfriam e desanimam seu zelo, e pouca coisa que alegre e aqueça seus corações. Eles têm de lidar com cruzes e frustrações. Eles veem a iniquidade abundar, e seu próprio amor prestes a esfriar. E por quê? Porque já é noite.

Estamos em um tempo solitário para os crentes. Eles encontram pouca companhia no caminho até o céu. Aqui e acolá eles esbarram em alguém que ama o Senhor Jesus e vive pela fé. Encontramos uns poucos filhos de Deus numa cidade, e outros poucos, em outra. Mas, em geral, os filhos do mundo parecem ser com o exército Sírio, que tomaram o país, e os filhos de Deus são como ovelhas dispersas em um deserto. E por quê? Porque já é noite.

Estamos em um tempo perigoso para os crentes. Geralmente eles erram, e dificilmente discernem sua rota. Geralmente permanecem na dúvida, e não sabem que caminho seguir. Algumas vezes eles não enxergam as placas e perdem a luz de seus faróis. Na melhor das hipóteses, eles viajam em contínuo medo dos inimigos. E por quê? Porque já é noite.

Leitor, eu lhe peço que pondere estas coisas. Se o tempo presente for realmente noite, você não se perguntará se nós ministros alertamos os Cristãos para vigiar e orar. Você não terá por estranho se nós lhe dissermos para viver como soldados num país inimigo, e para estar sempre em guarda.

Leitor, sente-se e pergunte-se se você pensa estar este mundo em dia ou em noite. O tempo presente é um tempo de conflitos ou um tempo de facilidades? Você sente que suas melhores coisas estão aqui nesta vida, ou que ainda estão por vir? Te ofereço estes questionamentos como um teste de seu estado espiritual. Eis que os ponho diante de ti como um indicador, uma medida da condição de tua alma. Eu digo a você claramente, se você nunca achou este mundo um deserto e lugar de trevas, este é um mal sinal de seu estado na visão de Deus. O verdadeiro crente achará as palavras de seu Senhor crucificado serem estritamente verdadeiras, “no mundo tereis aflições” (João 16:33). O verdadeiro crente, como seu Senhor e Mestre, será feito perfeito através dos sofrimentos. O verdadeiro crente lamentará sobre o mundo que vive como um mundo em rebelião contra o rei de justiça. O pecado o afligirá. Iniquidade o fará cheio de dores. Como Ló em Sodoma, sua alma justa será de contínuo aborrecida com muito do que ele vê e ouve. Ele ansiará pelo tempo quando o dia virá e as sombras passarão. Mas, por enquanto, ele saberá que é noite.

Leitor, este é seu dia ou noite?

II. Consideremos, em segundo lugar, a condição do mundo que está por vir.

O apóstolo Paulo o chama de “dia”: “e vem chegando o dia”. O tempo de que estamos falando é aquele que todo cristão verdadeiro deve esperar ansiosamente, é o tempo em que o Senhor Jesus Cristo virá novamente. O presente estado das coisas na Igreja de Cristo passará por uma grande mudança – uma mudança tão grande que será rápida como o amanhecer.

O mundo em que vivemos não continuará como está agora. As trevas do pecado, ignorância, e superstição não cobrirão a terra eternamente. O sol da justiça um dia nascerá com cura em suas asas. O Senhor Jesus virá novamente com poder e grande glória. Ele voltará em clara manhã, e então será “dia”.

Há um tempo por vir quando o diabo será amarrado, e não mais reinará neste mundo. O pecado e todas as suas consequências serão expulsas. A criação que geme descansará em fim. O perverso será calado para sempre em seu próprio lugar. Os santos do Altíssimo possuirão em fim o reino. Haverá um novo céu e uma nova terra, onde habitará justiça. Certamente será “dia”.

Há um tempo por vir quando os crentes se alegrarão e terão júbilo, e a tristeza e o gemido fugirão para longe. Cada lágrima será enxugada, cada cruz deixada de lado, cada ansiedade removida, cada taça amarga retirada. Perseguição, tentação, enfermidade, lamentos, separação e morte encontrarão seu fim. Certamente isso será o amanhecer. Será “o dia”. Há um tempo por vir quando toda a família de Cristo será reunida. Eles se levantarão de seus leitos e serão postos num corpo glorioso. Eles acordarão de seu longo sono refrescados, fortalecidos, e muito mais belos do que antes. Eles deixarão para trás em seus túmulos cada imperfeição, e se acharão sem mácula e mancha, para não mais partirem. Certamente aquela será uma manhã cheia de alegria. Será “dia”.

Há um tempo por vir quando os crentes não mais verão por como um espelho, mas sim face a face. Verão como são vistos, e conhecerão como são conhecidos. Cessarão de disputar e debater sobre assuntos superficiais, e pensarão em nada a não ser as eternas realidades. Eles contemplarão seu Senhor e Salvador crucificado com seus próprios olhos e não mais o seguirão pela fé. Eles verão um ao outro livre de toda corrupção, e não haverá motivos que os conduza ao desentendimento. Certamente será “dia”.

Vejo aqui um grande conforto para todo crente em Cristo que lê estas páginas. Há um dia diante de você, um dia glorioso. Você às vezes sente como se andasse em trevas e não tivesse luz alguma. Frequentemente você tem uma dura batalha a lutar contra o mundo, a carne e o diabo. Você às vezes acha que jamais encontrará o caminho de casa e desfalecerá pelo caminho. Sua carne e seu coração estão prontos a falhar. Você é fortemente tentado a desistir e ceder ao desespero? Mas conforte-se nos pensamentos das coisas no porvir. Há um bom tempo diante de você. Seu dia está raiando.

Vejo aqui uma grande razão por que muitos cristãos professos devem tremer e temer. Existem muitos, eu temo, a quem o tempo porvir será qualquer coisa, menos dia. Há muitos cuja felicidade está evidentemente focada nas coisas deste mundo, cujo tesouro está na terra, cujo tempo mais brilhante é agora, e cujas esperanças mais esplendorosas não estão na outra vida. Quanto mais eles olham adiante, mais negras as coisas aparentam ser. A velhice aparenta ser sombria – as doenças mais ainda – morte e julgamento aparentam ainda mais sombrios que as coisas citadas.

Amado leitor, se este for seu caso, eu te alerto plenamente que deve haver uma mudança. Seus pontos de vista, seus gostos, suas inclinações, suas afeições, todas essas coisas, devem ser renovadas e transformadas. Você deve aprender a ver o mundo que agora é e o que está por vir de uma perspectiva diferente. Vá e sente-se aos pés de Jesus, e peça a Ele para lhe ensinar esta lição. Peça que o entendimento do Espírito unte seus olhos e que você possa ver. Peça que o véu seja tirado, e você possa contemplar todas as coisas em suas verdadeiras cores.

Sei que Satanás trabalha duro para prevenir que os homens pensem em um mundo melhor do que aquele no qual agora vivemos. Ele se esforça a fim de afastar seus olhos do dia que está por vir. Ele persuadiria de bom grado que é impossível cumprir seu dever nesta vida ao passo que fixamos nossas atenções nas coisas do alto. Ele sussurra às pessoas que nós, ministros, queremos que eles se tornem sombrios eremitas e misantropos fanáticos, e que, se eles nos derem ouvidos, se tornarão despreparados para cada aspecto da vida. Contra todas as sugestões de Satanás, eu alerto que cada leitor esteja vigilante.

Eu desejo que ninguém negligencie os deveres de sua estação, ou abandone o posto ao qual foi designado por Deus. Eu não encorajo ninguém à melancolia e desinteresse pela igreja, como se não houvesse nada a que devamos ser gratos neste mundo. Não louvo ninguém que recuse suas afeições àqueles por quem está unido pelo amor, amizade ou relacionamento. Somente peço que o crente no Novo Testamento viva pelo padrão do Novo Testamento – que ele olhe para a vinda do dia de Deus, e espere pelo Filho de Deus dos céus, e ame Sua vinda.

Leitor, eu abomino toda extravagância e fanatismo quando o assunto são as coisas do porvir. Não tenho opinião sobre qualquer religião que faça um homem negligenciar seus negócios, ou deixar de amar a esposa, filhos, relacionamentos e amigos. Somente peço que tenhamos uma visão escriturística das coisas como realmente elas são, e como ainda serão. Peço que vejamos nossos males presentes e lamentemos por eles, que vejamos nosso futuro e ansiemos por ele. Confessemos honestamente que o pecado nos rodeia, e ansiemos por sermos livres de sua presença. Confessemos honestamente que a santidade um dia cobrirá a terra, e ansiemos por esse dia. Nunca nos envergonhemos em assumir que o tempo presente é “noite”, e que desejamos que se torne “dia”.

Diga-me, pode um homem realmente odiar o pecado e não desejar vê-lo varrido deste mundo? Pode um homem amar a santidade e não ansiar pelo dia em que todos conhecerão o Senhor? Pode um homem estar verdadeiramente unido com Cristo pela fé e não desejar vê-lo ou estar com ele? Pode um homem ser um santo e não ter sede da companhia de homens justos aperfeiçoados? Pode um homem sinceramente orar todos os dias “que venha o Teu reino” e ainda estar contente que o mundo continue sem nenhuma mudança? Ah, não! Não! Isso é impossível. Os verdadeiros filhos de Deus desejarão estar em casa. Eles esperarão pelo dia.

Leitor, se você pensa ser salvo, deve aprender a ver o tempo presente como “noite”, e o tempo porvir como “dia”. Você deve aprender a considerar o outro lado do Jordão como o lar de sua alma, e este lado como uma terra deserta. O tempo presente deve ser seu deserto, seu campo de batalha, seu lugar de provações – o porvir deve ser sua Canaã, seu descanso, a casa de teu Pai – ou é melhor você nunca ter nascido.

III. Em terceiro lugar, consideremos os tempos em que nossa sorte está lançada.

O apóstolo Paulo nos diz, quando fala, “vai alta a noite, e vem chegando o dia”.

Creio que estas palavras signifiquem que a ordem final das coisas chegou, o ultimo estágio na história da Igreja. A lei e os profetas fizeram seu trabalho. O Messias prometido no outono apareceu e trouxe completa salvação. A última revelação da vontade de Deus foi feita. O caminho da vida se desvendou ante a toda humanidade. Nenhuma outra mensagem do céu deve ser esperada antes do fim. Nenhum outro livro das Escrituras será escrito. Alcançamos a última vigília da noite. Nada temos a esperar senão o amanhecer o nascer do sol.

Leitor, estas palavras, que eram verdadeiras dezoito séculos atrás, são, se possível, mais verdadeiras no tempo presente. São palavras que deveriam encontrar pouso com grande poder na Igreja de Cristo a cada ano – “vai alta a noite, e vem chegando o dia”.

Sou daqueles que pensam que “o dia” pode não estar tão distante como alguns o supõe. Não posso guardar a ideia do retorno do Senhor em glória como um evento que, “é claro,” não pode se dar em nosso tempo, como alguns dizem. Prefiro pensar que vejo sinais do sol no horizonte. De todos os evento, eu desejo manter em mente as palavras de São Tiago, “eis que o juiz está as portas” – “a vinda do Senhor está próxima”, e as palavras de São Pedro, “e já está próximo o fim de todas as coisas” (Tiago 5:8-9 e 1 Pedro 4:7).

Não sou profeta, e posso facilmente estar enganado. Podemos morrer antes de Cristo vir e o dia amanhecer. Mas eu apelo a todo homem pensante se há ou não “sinais dos tempos” que merecem séria atenção. Eu lhe peço que note as coisas que acontecem no mundo, e considere bem o que elas querem dizer.

Algum leitor pergunta o que eu quero dizer com “sinal dos tempos”? Deixe-o pesar bem os seguintes seis pontos, e ele saberá o que quero dizer.

1.1. O que devemos dizer sobre as missões aos pagãos que tem sido estabelecidas nestes últimos dias? Sessenta anos atrás Igrejas Protestantes pareciam completamente adormecidas no assunto de missões. Dificilmente havia algum missionário enviado aos pagãos de toda a Grã-Bretanha. A ideia de pregar o Evangelho aos selvagens e idólatras era ridicularizada. Os primeiros incentivadores de missões foram tratados com frieza por muitos que deveriam conhecer melhor o assunto. Mas agora o sentimento está completamente mudado. Estamos empregando centenas de missionários em cada quadrante do globo. E o que diz a Escritura, “E este Evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mateus 24:14).

1.2. O que diremos do interesse surpreendente nos judeus neste últimos dias? Sessenta anos atrás ser um judeu era um insulto, um motivo de riso. Nenhum homem importava-se com a alma dos filhos de Abraão. Eram um povo desprezado, ignorado e pisoteado. Podia muito bem ser dito, “É Sião, já ninguém pergunta por ela” (Jeremias 30:17). Mas agora o sentimento está diferente. Os interesses espirituais são objeto de profunda preocupação para os cristãos verdadeiros. Seus direitos civis são levados ao extremo. A própria cidade de Jerusalém tem pesado no conselho de reis. E o que diz a Escritura? “Tu te levantarás e terás piedade de Sião; pois o tempo de te compadeceres dela, o tempo determinado, já chegou. Porque os teus servos têm prazer nas suas pedras, e se compadecem do seu pó. Então os gentios temerão o nome do SENHOR, e todos os reis da terra a tua glória. Quando o SENHOR edificar a Sião, aparecerá na sua glória” (Salmos 102:13-16).

1.3. O que diremos do maravilhoso aumento de conhecimento e comunicações entre as nações nestes dias? Sessenta anos atrás, encontrar um homem pobre que podia ler era algo incomum. Em poucos anos, alguém que não sabe ler será algo raro. Sessenta anos atrás havia poucos que viajavam além das fronteiras de seu próprio país. Agora cada um pode ir em qualquer direção, e nossa população é como enxame de abelhas perturbadas. Navegação a vapor e ferrovias alteraram a característica da sociedade. Tempo e espaço são nada. Mares, montanhas e rios não são mais obstáculos. Deus separou as nações no dia de Babel. O homem está trabalhando duro para fazer delas uma só novamente. E o que diz a Escritura? “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará” (Daniel 12:4).

1.4. O que diremos das guerras e tremores das nações que temos visto nos últimos sessenta anos? Os mais poderosos impérios da terra tem sido abalados em seus fundamentos. Reis, príncipes, e homens poderosos, tem sido tirados de suas posições, e passado a vaguear pela face da terra. Nenhum raciocínio humano pode explicar este ocorrido. Esses movimentos tomam lugar ante ao aumento de conhecimento, civilização e desejo por paz. O choque veio de baixo. E o que diz a Escritura? “Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores” (Mateus 24:7-8).

1.5. O que diremos da diminuição do poder Muçulmano? Duzentos e cinquenta anos atrás os homens se perguntavam se os Turcos não avançariam pela Europa. Nenhum exército parecia capaz de lhes resistir. Província após província caia em suas mãos. Quando Martinho Lutero em seus sermões procurava uma ilustração de poder mundano ilimitado, ele escolheria para seu exemplo “o império Turco”. Mas agora tudo mudou. Sem muita pressão externa a força Muçulmana gradualmente diminuiu. Houve um colapso, um gasto, um verme que devorou seu poderio. Apesar de toda ajuda de aliados Cristãos, o império Turco é como um homem enfermo de uma doença dolorosa. Ele pode se recuperar por um tempo às custas de um forte remédio, mas jamais será novamente poder exclusivo, perseguidor e puramente Muçulmano. Os dias do puro e intolerante islamismo parecem passados para sempre [2]. E o que diz a Escritura? “E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do oriente. E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas” (Apocalipse 16:12-15).

1.6. O que diremos do aumento da atenção às profecias não cumpridas, que apareceu nestes últimos dias? Sessenta anos atrás haviam poucos que prestavam qualquer atenção ao assunto. Passagens das Escrituras que falavam das coisas porvir eram comparativamente negligenciadas, ou pervertidas com ingenuidade curiosa de seus simples significados. Agora, ao contrário, o sentimento público corre em favor do estudo das profecias. Livros sobre o assunto são avidamente consumidos. Palestras sobre o assunto são ouvidas com maior atenção. Apesar das divisões que preterismo e futurismo [3] criaram – apesar do descrédito que Mileritas [4] na América e Irvingitas [5] na Inglaterra trouxeram sobre o assunto, o estudo de profecias não cumpridas ainda está em voga. Mas o que dizem as Escrituras? “estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim” (Daniel 12:9). As palavras parecem desdobradas. O selo parece ter sido quebrado. Estaríamos próximo do fim?

Leitor, ponho estes pontos diante de você, e peço sua séria atenção a eles. Sei que todos nós somos pobres juízes de nossos próprios tempos. Nós estamos aptos a exagerar a importância dos eventos que ocorrem debaixo de nossos olhos. Ouso dizer que se vivêssemos nos dias de Cromwell, ou sob a primeira Revolução Francesa, teríamos pensado que o fim de todas as coisas era iminente. Mas, mesmo após todo abono, penso que estes pontos que mencionei merecem solene consideração. Eu os considero como sinais de nossos tempos. Estou longe de dizer que não haverão grandes mudanças antes do fim. Penso ser possível que haja um tempo de conflito e tribulação ainda, “qual nunca houve, desde que houve nação” (Daniel 12:1). Mas venha o que vier, vejo profunda significância nas palavras “vai alta a noite, e vem chegando o dia”.

Vejo nestas palavras o maior motivo para sermos diligentes no trabalho de fazermos algo pelas almas. Tenhamos mais urgência em espalhar o Evangelho pelo mundo. Sintamos mais dores ao nos esforçarmos por semear a verdade em casa. Trabalhemos, se possível, para arrebatar mais tições da fogueira. O tempo é curto. Vai alta a noite. Vem chegando o dia. Vejo nestas palavras o mais forte consolo para o crente em Cristo Jesus. Oh! Que os corações se confortem nisso mais e mais.

Ainda por um pouco, e os crentes romperão para sempre com a doença. Os doentes e cansados, que lamentaram sobre sua aparente inutilidade para a igreja – o fraco e vacilante, que tinha vontade de trabalhar, mas não a força para fazê-lo – o frágil e acamado, que esperou prolongados anos em leitos silenciosos, até seus olhos conheceram cada fenda e mancha em suas paredes – todos, todos serão livres. Cada um deles terá um corpo glorioso como o de seu Senhor.

Ainda por um pouco, e os crentes que lamentam romperão para sempre com suas lágrimas. Cada ferida em seus corações será completamente sarada. Cada lugar vazio e cada vão em suas afeições serão completamente preenchidos. Eles descobrirão que aqueles que morreram no Senhor não se perderam, mas apenas se foram antecipadamente. Eles verão que sabedoria infinita havia em cada luto, pelo qual um era tomado e outro deixado. Eles magnificarão o Senhor juntos com aqueles que uma vez foram seus companheiros em tribulação, e conhecerão que Ele fez tudo da maneira correta, e os guiou por justas veredas.

Ainda por um pouco, e os crentes não mais se sentirão sozinhos. Eles não serão mais espalhados pela terra, uns poucos em um lugar, outros poucos em outro lugar. Eles não mais lamentarão que existam tão poucos com quem falar, como um homem fala a um amigo – tão poucos com o mesmo pensamento, e que viajem com eles no caminho estreito. Eles estarão unidos à assembleia geral e igreja dos primogênitos. Eles se juntarão à bendita companhia de todos os crentes de cada nome, e povo e língua. Seus olhos serão, em fim, satisfeitos com a visão. Eles verão multidão de santos que ninguém pode enumerar, e nenhum perverso no meio deles.

Ainda por um pouco, e os crentes que trabalham descobrirão que seu trabalho não foi em vão. Os ministros que pregaram, e aparentavam não colher frutos; os missionários que testificaram do Evangelho, e ninguém pareceu acreditar; os professores que derramaram nas mentes infantis linha sobre linha, e ninguém pareceu atender – todos, todos descobrirão que não gastaram suas forças por nada. Descobrirão que a semente semeada pode florescer depois de muitos dias, e que mais cedo ou mais tarde haverá lucro em toda labuta.

Ah! leitor, quando serão estas coisas? Verdadeiramente podemos dizer, “Senhor Deus, tu o sabes”. Mil anos para Ele são como um dia, e um dia como mil anos. Mas nós sabemos que ainda por um pouco aquele que vem, virá, e não tardará. Ainda por um pouco, e o último sermão será pregado, a última congregação se reunirá. Ainda por um pouco, e a falta de cuidado e a infidelidade cessarão, perecerão e desaparecerão. Os crentes entre nós estarão com Cristo, e os descrentes, no inferno. Vai alta a noite, e vem chegando o dia.

IV. Agora, por último, deixe-me falar do dever prático de todos os crentes conectados com as verdades que acabamos de considerar.

Aquele dever prático nos é posto em palavras claras – “Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz”.

Leitor, a palavra “pois” é geralmente usada pelo apóstolo Paulo de uma maneira bem marcante e convincente. Tome alguns exemplos, e você logo perceberá o que quero dizer.

Quando ele termina a parte doutrinária da Epístola aos Romanos, e começa sua exortação prática, qual é sua linguagem? “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Romanos 12:1).

Quando ele pregou a ressurreição do corpo aos coríntios, como ele finaliza seu argumento? “Portanto [6], meus amados irmãos, sede firmes e constantes (1 Coríntios 15:58)”.

Quando ele pôs firme fundamento da doutrina para a Igreja de Éfeso, como ele procedeu para endereçá-los deveres práticos? “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Efésios 4:1).

E aqui, como em outros lugares, a palavra “pois” vem sobre nós de uma maneira muito sutil e convincente. “Vai alta a noite, e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz”.

Leitor, eu amo observar como a doutrina da segunda vinda e reino de Cristo é estritamente relacionada com santidade pessoal. Surpreendo-me que alguém possa considerar a segunda vinda e reino do nosso Senhor Jesus como assuntos meramente especulativos, ou denunciá-las como assuntos não proveitosos. Para minha própria consciência, eles aparentam ser eminentemente práticos, ou então eu li minha Bíblia sem muito propósito.

O apóstolo Paulo falou aos filipenses: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens. Perto está o Senhor” (Filipenses 4:5). E aos colossenses disse: “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória. Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria” (Colossenses 3:2-5). Não é ordenado aos hebreus que se exortem “uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hebreus 10:25)? Pedro diz: “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz” (2 Pedro 3:13-14)? Esses textos para mim parecem falar com grande firmeza. Não sei como esta força pode ser evitada. Eles fazem da vinda de Cristo, e do dia da glória, um argumento para o aumento da santidade. E é do mesmo modo que Paulo diz: “Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz”.

Leitor, como você “deixará as obras das trevas”? Ouça-me, e eu lhe direi. Você deve deixar de lado tudo em sua vida e hábitos que não comportem a luz do advento de Cristo. Você deve fazer disso um princípio de consciência: de não fazer nada que você não gostaria ser encontrado fazendo quando Jesus vier de novo para reunir seu povo.

De fato, este é um teste sutil. Sua aplicação deve ser deixada para o coração de cada homem. Cada um deve julgar por si mesmo. Cada um deve provar suas próprias obras. Cada um deve estabelecer um veredicto dentro de si, e, honestamente pôr seus caminhos à prova. Oh! Que tenhamos vontade de lidar com justiça com nós mesmos! Oh! Que tenhamos prontidão diária em julgar a nós mesmos a fim de que não sejamos julgados pelo Senhor, e condenar a nós mesmos, e não sermos condenados no último dia.

Peço a cada leitor deste tratado que a luz do dia de Cristo tenha relevância para o seu homem interior. Empenhe seus anos, meses, semanas, dias e horas em fazer este dia brilhar, e o que quer que você encontre dentro de si que se aparente com as trevas, a arranque fora e jogue bem longe. Não mantenha qualquer hábito questionável. Não tenha compromisso com práticas duvidosas. Quebre cada ídolo, seja ele grande ou pequeno. Corte cada bosque, e limpe cada câmara pintada com imagens [7]. Não se apegue a nada do qual você se envergonharia diante dos olhos de Cristo. Acabe com isso imediatamente, para que Ele não venha subitamente e envergonhe você. Oh! Que ele jamais diga do coração de nenhum leitor naquele dia, “este coração professava ser templo do Espírito Santo, mas tu o fizeste covil de ladrões”.

Leitor, teste todo o uso do seu tempo pelo teste da segunda vinda de Cristo. Pese nessa balança suas diversões, seus livros, suas companhias, sua maneira de conversar, seu comportamento diário em todas as relações da vida. Meça tudo por esta medida – “Vai alta a noite e vem chegando o dia. Estou vivendo como filho da noite, ou como um que procura pela luz do dia?”. Faça isso, e você irá deixa as obras das trevas.

Mas como você se revestirá das armas da luz? Ouça-me mais uma vez, e eu lhe direi.

Você deve almejar cada graça e hábito que o torne um crente em Jesus, um filho de Deus, um cidadão do reino dos céus. Você não deve deixar de lado a santidade visível e a espiritualidade, como se ninguém, exceto alguns santos favorecidos, pudessem ser santos proeminentes. Você deve trabalhar para vestir as armas da luz por si mesmo, o cinturão da verdade, a couraça da justiça, o capacete da esperança e a espada do Espírito (Efésios 6:14-17). Onde quer que você viva, e qualquer que sejam suas provações – que grandes sejam suas dificuldades, e quão pequenas sejam suas fontes de socorro – nada deve impedir seu desejo pelo alto padrão, por se comportar como alguém que acredita que Cristo virá novamente.

Você deve resolver, com a ajuda de Deus, viver de tal modo que o dia de Cristo encontre você necessitando tão pouca mudança quanto possível. Você deve procurar ter gostos tão celestes, afeições tão espirituais; uma vontade tão submetida; uma mente pouquíssimo conformada com o mundo, que quando o Senhor aparecer você possa verdadeiramente estar preparado para o Seu reino. Verdadeiramente foi bom o que disse Dr. Preston, eu seu leito de morte: “vou mudar de lugar, mas não de companhia”.

Ah leitor, temo que alguns crentes estarão bem menos preparados para o dia do que outros! Suspeito que alguns terão uma entrada mais abundante no céu do que seus irmãos. Mais ousadia, mais confiança, mais prontidão pela companhia do Senhor. Oh! Que para cada um em cujas mãos este tratado cair possa andar com o Senhor tal qual Enoque, que foi trasladado de um baixo degrau de comunhão, para um mais alto, de andar pela fé, para andar pelo que vê. Isso é vestir-se das armas da luz.

Que haja luz em seu coração continuamente, Cristo habitando nele pela fé, sendo sentido, conhecido, e experimentado pela sua alma. Que haja luz em sua vida continuamente, Cristo refletido nela, seguido, imitado, e copiado. Procure ser luz neste mundo, e nada menos. Um brilho, uma luz clara, uma que os homens possam ver de longe. Faça isso e você se vestirá das armas da luz.

Viva como se você pensasse que Cristo pode voltar a qualquer momento. Faça tudo como se fosse a última vez. Diga cada coisa como se fosse a última palavra. Leia cada capítulo da Bíblia como se você não soubesse se poderia ler novamente. Ore cada oração como se você sentisse que essa poderia ser sua última oportunidade. Ouça cada sermão como se estivesse ouvindo uma vez e para sempre. Este é o modo de ser encontrado pronto. Este é o modo de ter a segunda vinda de Cristo em boa estima. Este é o modo de vestir as armas da luz.

1.1. E agora talvez este tratado caia nas mãos de alguém descuidado, imprudente, não-convertido.

Leitor, você é este homem? Então, lembre-se destas palavras “vai alta a noite e vem chegando o dia”.

O que você anda fazendo? Come, bebe, dorme, se veste, trabalha, vende, compra, ri, lê, mas não faz nada pela sua alma. O inferno está abrindo sua boca para você, e você está descuidado. Cristo está vindo julgar o mundo e você está despreparado. O tempo urge e você não está pronto para a eternidade. Oh! Acorde para o seu perigo e arrependa-se hoje. Acorde e chame seu Deus antes que seja tarde demais para orar. Acorde e veja o Senhor Jesus Cristo antes que a porta se feche e o dia da ira comece. Você pode ser visto como sábio e inteligente neste mundo, mas vive como um louco.

1.2. Mas talvez este tratado tenha caído nas mãos de alguém que está indeciso e vacilante entre duas opiniões.

Leitor, você é este homem? Então lembre-se destas palavras, “vai alta a noite e vem chegando o dia”.

O que você anda fazendo? Você ouve, escuta, deseja, espera, pensa, planeja, espera, decide, mas não vai adiante. Você vê a arca, mas não entra nela. Vê o pão da vida, mas não o come. Você espera. E o tempo se vai. O diabo está dizendo para você: “terei essa alma antes do tempo”. Oh! Saia do mundo e não se prolongue mais. Tome sua cruz. Livre-se das desculpas vãs. Confesse Cristo perante os homens. Cuidado, eu digo, para que não se decida tarde demais. De novo, eu digo, cuidado.

1.3. Mas talvez este tratado caia nas mãos de um crente verdadeiro.

Leitor, você é este homem? Lembre, então, destas palavras: “vai alta a noite e vem chegando o dia”.

Peço que viva como se acreditasse nas palavras que acabamos de considerar, e então mostre ao mundo que você crê nelas. Quanto mais perto você está de casa, mais acordado você deve estar. Quando mais você percebe a segunda vinda pessoal do Senhor Jesus, mais vívido deve ser seu cristianismo.

Ah! Leitor, é bem verdade, como Legh Richmond disse em seu leito de morte: “Nós estamos meio acordados! Nós estamos meio acordados!”. O melhor de nós precisa ter seu coração agitado pela lembrança. Vamos esfregar os olhos sonolentos de nossa mente, e olhar a rápida vinda de nosso Mestre de olhos bem abertos. Basta com termos sido servos apáticos e preguiçosos no passado. Para o tempo porvir, que trabalhemos como aqueles que sentem que “o Mestre logo estará aqui”.

Eu lembro quando era um menino, nos tempos de escola; eu podia acordar, apesar de cansado por uma longa jornada, quando eu começava a chegar em casa, tão logo eu via as velhas colinas, e árvores, e chaminés; e o senso de cansado se ia, e eu estava avivado novamente. A expectativa de ver logo os rostos que eu amava demais, alegria de pensar na reunião de família, tudo isso estava apto a levar o sono para longe. Certamente deve ser assim conosco, no que diz respeito às nossas almas. Vai alta a noite e vem chegando o dia. Ainda por um pouco, e o que vem virá, e não tardará. Deixemos então toda obra das trevas. Revistamo-nos com as armas da luz. Envergonhemo-nos de nosso passado de apatia. Acordemos, e não durmamos mais.

John Charles Ryle — Evangelical Tracts, Suffok, Inglaterra, outubro de 1854.

[…]

[1] Citações da versão Almeida Revista e Atualizada, sendo a 1 edição de 1959 e a 2 edição de 1993.

[2] Realmente, quanto ao Império Otomano da época do Ryle (o sucessor do Império turco da época de Lutero) esse acabou em 1918, depois da I Guerra Mundial, mas quanto ao poder do islamismo, Ryle tinha razão ao colocar como “parece passados”, pois ele recobrou animo no século 20 por outros meios (N. R.).

[3] Preterismo é o sistema de interpretação profética que considera a maior parte das profecias de Apocalipse cumpridas e passadas. Futurismo é o sistema que considera as mesmas profecias como ainda não cumpridas – nota de J. C. Ryle.

4] Mileritas: adeptos do movimento liderado por Guilherme Miller, movimento que chegou a literalmente marcar a volta de Cristo para o dia 22 de outubro de 1844; depois do não cumprimento dessa data, o que foi chamado de “O Grande Desapomtamento”, alguns membros dessa ideia formaram o primeiro grupo que viria a formar o Adventismo (N. R.).

[5] Invigistas: movimento liderado por, Edward Irving , ministro presbiteriano, que pregava o eminente retorno de Cristo e manifestações carismáticas como sinais de sua volta (sendo esse considerado um precursor do movimento carismático moderno) (N. R.).

[6] A palavra em inglês usada na versão do autor é “therefore” que quer dizer “pois” ou “portanto”. Na versão Almeida Corrigida e Fiel, usada na tradução, exceto pela citação inicial de Romanos 13:12 (onde usa-se a ARA) a mesma palavra é, por vezes vista como “pois”, outras vezes como “portanto”.

[7] Tradução conforme Ezequiel 8:12.

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