Quatro Nobres Verdades

O encontro de Jesus com Zaqueu, apenas mencionado no Evangelho de Lucas, é narrado sob a sombra de uma multidão que vinha seguindo a Jesus, descrita no evento anterior (Lc 18:35-43). A história de Zaqueu, vindo logo após a declaração enfática acerca da dificuldade para a salvação dos ricos (Lc 18:24-25), fica em contraste marcante com a do jovem rico. Este incidente, sem dúvida, deve ser contemplado como uma expressão notável da Graça e Poder de Deus (Lc 18:27).

Localizada cerca de 25 km a nordeste de Jerusalém, cidade de grande importância na fronteira da Judéia, Jericó foi palco histórico do último milagre de cura, registrado, realizado por Jesus. Todo comércio do leste passava por essa cidade, e, ainda outros fatores, contribuíam para acentuar a sua importância. Jericó devia ter sido um ponto bom para um negociante de impostos. Zaqueu era chefe dos coletores de impostos, sem dúvida um posto importante. Os seus ganhos deviam constituir numa generosa remuneração; não sem razão, era rico. A despeito do significado do seu nome, “puro” ou “reto”, Zaqueu, provavelmente, devia ser culpado dos males comuns à sua profissão.

As circunstâncias que levaram ao notável encontro de Zaqueu com Jesus são descritas, provendo-nos com as verdades que fornecem o material para o tema proposto:

1 – UMA NOBRE PROCURA

“Procurava ver quem era Jesus” (Lc 19:3a). Zaqueu ouvira falar de Jesus e, portanto, queria vê-Lo. Esse homem poderia facilmente se deixar envolver por suas obrigações e afazeres, talvez ilícitas, e menosprezar a chance de procurar ver quem era Jesus. Quem era Zaqueu? Lucas oferece-nos algumas dicas:

“Era chefe dos publicanos” – Esse título não é achado em qualquer outro lugar, de modo que seu significado exato é desconhecido, mas parece indicar o chefe da repartição local de impostos. Zaqueu empregaria a outros para fazer a coleta propriamente dita dos impostos, ao passo que ele pagaria aos romanos a parte exigida por eles. Jericó era um ponto estratégico para a fomentação do sucesso de Zaqueu.

“Era rico” – Como não o poderia ser? Neste local e com tal ocupação, dificilmente não o seria, mas, decerto, era impopular e tinha pouca vida social. Dado a discriminação e preconceito em relação a sua profissão, padecia o ódio e ressentimento dos cidadãos de sua cidade.

“Era de pequena estatura” – A menção de seu tamanho aparece no texto como resposta ao motivo da dificuldade que ele estava enfrentando para se aproximar de Jesus, que Se achava cercado por uma multidão. Era impossível vê-Lo por cima das cabeças das pessoas, e poucos abririam passagem para um homem tão impopular.

A PRIMEIRA nobre verdade acerca de Zaqueu, não era o fato de que ele era cidadão da proeminente, da tão famosa cidade de Jericó, mas o fato inquestionável que ele estava envolvido na mais nobre procura que qualquer homem ou mulher pode se engajar: “Estava procurando ver quem era Jesus”. Uma enorme multidão não foi, não é e nunca será capaz de impedir que alguém, como Zaqueu, determinado na procura por ver quem é Jesus, encontre um meio para lograr o sucesso nesta busca. Milhões, em recursos e tempo, têm sido investidos em tantas buscas, que os homens julgam de extrema importância, mas nenhuma busca, ou procura, terá maior valor e nobreza quanta a essa que Zaqueu se achava imerso.

2 – UMA NOBRE ESTRATÉGIA

“Subiu a um sicômoro para vê-lo, já que havia de passar por ali” (Lc 19:4b). Zaqueu estava enfrentando dificuldades para satisfazer a sua curiosidade. No entanto, era um homem de habilidade e não estava preocupado com sua posição social, ou dignidade pessoal. Sua atitude diante da adversidade que se lhe apresentava, claramente publica esta verdade:

“Então correndo adiante” (Lc 19:4). A fim de ser capaz de ver a Jesus, o “baixinho” corre pela avenida principal da cidade até que passa à frente da multidão. Antecipando os passos do Mestre, Zaqueu encontrou um meio de resolver o seu problema.

“Subiu a um sicômoro para vê-lo” (Lc 19:4). Ele sobe em uma árvore de forma a conseguir um bom ponto de observação, a pressão da turba, decerto, o teria empurrado para fora do caminho, se tivesse ficado no chão. Desprezando a reprovação, e possível zombaria por parte dos outros, se acomodou em um lugar onde tinha certeza que podia ver a Jesus.

A SEGUNDA nobre verdade acerca de Zaqueu não era o fato de que ele era muito mais que um simples publicano, ou o maioral entre os publicanos, mas a autêntica criatividade demonstrada em sua robusta coragem e determinação em se posicionar, sabiamente, no lugar não muito apropriado, ou convencional, mas tremendamente adequado para o seu propósito, “já que (Jesus) havia de passar por ali”. O lugar onde a presença de Cristo é garantida, deve ser um lugar atraente para todo o verdadeiro cristão (Mt 18:20).

Não há melhor ou mais nobre estratégia que essa: estar somente onde Cristo está. Se tivermos que correr adiante, por quaisquer razões, corramos para o lugar onde, sabemos com certeza, Ele haverá de passar. Zaqueu, decerto, conhecia muito bem Jericó, ele conhecia outros caminhos que talvez pudessem ser usados para atravessar Jericó, mas não teve dúvida acerca de qual seria o caminho pelo qual o Senhor havia de passar.

3 – UMA NOBRE DECISÃO

“Recebeu-o com alegria” (Lc 19:6). Lucas narra que havendo Jesus entrado em Jericó, ia passando, ou atravessando a cidade. Alguns sugerem que é evidente que ele não pretendia parar ali. Item presente, ou não, na agenda de Jesus, Sua passagem por Jericó, e eventual parada, proporcionou a Zaqueu a oportunidade que ele precisava para vê-Lo. O relato de Lucas acerca desse momento histórico, revela-nos que quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e, objetivamente, disse a Zaqueu quais eram as Suas intenções. Diante do desafio de Jesus, Zaqueu é motivado a tomar uma decisão. O que torna nobre a sua decisão? Vejamos:

“Apressando-se” (Lc 19:6a) – A reação ansiosa e alegre de Zaqueu aos acontecimentos totalmente inesperados é compreensível. Nenhum judeu que se respeitasse gostaria de ter algo a ver com ele. Possivelmente ninguém o saudava ou tinha com ele qualquer cortesia; o que dizer acerca de oferecer-lhe calor e amizade? Zaqueu não titubeou, não piscou os olhos, não hesitou um segundo sequer. Apressando-se! Que demonstração de interesse! Aquela foi uma oportunidade inadiável para Zaqueu. Não pensou, apenas agiu imediatamente, guiado pelo nobre e sincero desejo de amizade e intimidade com Jesus.

“Desceu e o recebeu com alegria” (Lc 19:6b) – Embora tendo visto a Jesus, que era o que aparentemente, procurava, respondeu com regozijo ao Seu convite, e desfrutou da bênção de tê-Lo hospedado em sua casa. Receber Jesus em sua casa, com certeza ultrapassava as expectativas de Zaqueu.

A TERCEIRA nobre verdade acerca de Zaqueu não era o fato que era rico, mas o ato, explícito, de prontidão e gratidão com que apressando-se, agiu e recebeu a Jesus com alegria. Quantas decisões tomamos ao longo de nossas vidas! Qual, dentre elas, poderia ser mais nobre do que a decisão de atender ao convite do Senhor, recebendo-O com alegria quando ouvindo o Seu chamado? O triste fato de que há muitos hesitando e adiando a decisão de, depressa, receber a Jesus com alegria em suas vidas, nos assusta demasiadamente. Quantas outras oportunidades teria Zaqueu, como aquela que se lhe oferecia, para receber a Jesus? Jesus estava a caminho da cruz, a caminho da morte que lhe conferiria a credencial final e definitiva de Salvador nosso. Zaqueu, de pequena estatura, mas, de grande sabedoria, tomou a mais nobre decisão!

4 – UMA NOBRE DECLARAÇÃO

“Hoje veio a salvação a esta casa, porque também este é filho de Abraão. Pois o filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10).

Dadas as circunstâncias, o fato de Jesus ter mostrado simpatia ao desprezado Zaqueu e se ter identificado com ele, constituiu em um ato ousado e público. Nenhuma outra história fornece evidências mais vívidas da notável liberdade exercida por Jesus em Sua maneira de Se relacionar com as pessoas. Todos os tabus e protocolos sociais foram ignorados por Jesus. O bem estar de um homem estava em jogo e Ele não apenas reconhece e fala com Zaqueu, mas decide fazer da casa de um homem impuro o Seu pouso, dessa forma escandalizando todos os religiosos da multidão. Sob o impacto da aceitação incondicional de sua pessoa por Jesus, uma espetacular transformação é operada na vida de Zaqueu.

O sinal evidente dessa transformação é uma mudança radical na sua atitude para com a riqueza. Ela não exerce mais o lugar de Deus em sua vida. A metade de sua fortuna seria destinada para beneficiar aos pobres, classe contemplada pela compaixão e interesse do Senhor que entrara para ser seu hóspede. O restante seria usado na correção dos erros que ele havia cometido. Tal cenário, Zaqueu se levantando, demonstrando uma nota de formalidade apropriada para o aviso importante que iria dar, a profundidade da mudança radical operada em sua vida, seu desprendimento e disposição de conversão, servem de pano de fundo para uma nobre declaração, talvez uma das mais belas e enfáticas, dadas por Jesus:

“Hoje veio a salvação a esta casa” (Lc.19:9a) – A afirmação de Jesus deixa claro que Zaqueu foi salvo. Tal afirmação referia-se primariamente a Zaqueu, mas o lar não é esquecido. Jesus, a encarnação da Graça de Deus, esteve presente na casa de um publicano (maioral deles, talvez o pior), e Sua presença foi literal da salvação, da qual não só Zaqueu, mas toda a sua família pôde se beneficiar.

“Porque também este é filho de Abraão” (Lc 19:9b) – Filho de Abraão deve significar alguém que segue a fé de Abraão (Rm 4:12), e não simplesmente um descendente linear do patriarca. Todos os judeus poderiam alegar este fato, mas nem todos os judeus eram salvos. Esta cláusula não faz da raça a base para a salvação de Zaqueu. Embora este publicano fosse um filho de Abraão, era um pária desprezado pelo seu próprio povo – classe de pessoa que Jesus viera buscar.

“Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19:10) – Este incidente demonstra claramente esta verdade. Foi Jesus quem abordou a Zaqueu, Quem o procurou com o Seu olhar de misericórdia e o convidou para uma comunhão estreita. Ele fez o contato, e não Zaqueu. Aquele homem estava entre os perdidos que Jesus viera buscar e salvar. Jesus não o deixou ali! Com Seu doce olhar e voz buscou-o, e com Sua santa presença o salvou e transformou.

A QUARTA nobre verdade acerca de Zaqueu não é o fato de que ele recebeu a Jesus em sua casa e posteriormente em sua vida, nem a declaração surpreendente que fizera acerca de sua nova atitude de vida, ou mesmo a declaração que Jesus fizera a seu respeito, citando-o como um autêntico filho de Abraão, título nobre, sagrado para os judeus. A nobre declaração é a chave de ouro usada por Jesus, narrada por Lucas como ponto conclusivo desse comovente encontro: “O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”.

Zaqueu estava perdido, infeliz e vazio. Talvez tivesse ouvido as tantas histórias acerca da compaixão e graça que caracterizavam o ministério de Jesus. Como a todos recebia e a nenhum rejeitava ou sobrecarregava com leis e exigências impossíveis de se cumprir, mas em paz os despedia e animava-os a seguir em novidade de vida – “vai, e não peques mais”.

Ver Quem era Jesus, era a maior obsessão de Zaqueu naquele dia. Não se importou de até mesmo se expor ao ridículo – um adulto, membro proeminente da comunidade, trepado em uma árvore no centro da cidade -, mas que grande privilégio o de Zaqueu ao saber que fora em sua casa que Jesus declarou a mais nobre verdade acerca da Sua missão. E que nobre declaração! Jesus, o filho do homem, veio buscar e salvar a cada um de nós. A multidão se O conhecesse, teria se alegrado antecipadamente por Zaqueu, e não murmurado “entrara para ser hóspede de um pecador”.

Essa atitude prova que, embora seguindo a Jesus, não estavam interessados em saber Quem Ele era. Que saibamos viver a novidade de vida que nosso Mestre ensina. “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6:3). Ao contrário da multidão, que, embora tão de perto cercando, e até mesmo impedindo o pequeno Zaqueu de ver e se aproximar de Jesus, sejamos um grande povo, não impedindo outros de vislumbrar a pessoa de Jesus por causa de nosso mal testemunho, ou egocentrismo, mas a conduzir e fornecer, como colunas e baluartes da verdade (I Tm 3:15), um adequado ponto de observação onde Cristo, nosso Senhor, possa ser visto. Um povo que vive não só a cantar, mas a agir:

“Cercamo-te, Senhor, a Quem queremos dar louvor eterno, oh! Salvador, e gratos Te adorar”. Amém!

Robert Alves Cândido

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