O Redentor e os Redimidos

Uma vida radiante depende grandemente duma apreciação adequada do que Cristo é para nós e do que nós somos para Ele. Vamos, portanto, procurar afirmar a posição singular que é nossa em virtude da nossa relação com o Filho de Deus.

“O que é Cristo para o crente?” … em uma palavra: “Ele é Tudo!”.

Há no Senhor Jesus Cristo um encanto, uma glória e uma atração inexprimível vinculada à Sua pessoa que está além do poder da expressão humana. Nem o pincel de um artista, nem a habilidade de um escritor, nem a eloquência de um pregador pode expressar adequadamente tudo o que Ele é.

Há muitos contrastes essenciais na esfera espiritual. Para conhecer a nossa riqueza em Cristo, é necessário que reconheçamos a nossa própria pobreza; ser forte no Senhor envolve o reconhecimento da nossa própria fraqueza; ser honrado por Ele significa a confissão da nossa própria insignificância.

É sempre um bom sinal quando somos capazes de elevar-nos acima da dádiva até ao Doador. É maravilhoso saber que temos vida, e é mais maravilhoso saber que Cristo é a nossa vida. É ótimo saber que temos paz com Deus, e é infinitamente melhor reconhecer que Cristo é a nossa Paz. É uma grande coisa possuir uma esperança que é “firme e constante”, mas é muito melhor saber que “Cristo em nós é a esperança da glória”.

É interessante notar o que o Senhor Jesus Cristo era para o Seu servo, o Apóstolo Paulo. Na carta aos Filipenses Paulo diz: “Mas o que para mim era ganho, reputei-o perda por Cristo” (Fp 3:7). Nos versículos anteriores Paulo enumerava certas vantagens e privilégios naturais que eram dele por nascimento e educação, mas ele considera todos como perda.

Ele avança mais um passo para frente e diz: “Tenho por perda TODAS as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:8). Não somente as suas vantagens naturais, mas todas as outras coisas do caráter terreno foram contadas como perda. A razão disso é que ele considerava a excelência do conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor, muito superior a todas as outras considerações.

No mesmo versículo o apóstolo usa palavras que possivelmente nenhum dos meus leitores poderiam usar verdadeiramente (e tenho certeza de que o escritor não o pode): “Por amor do qual, perdi todas as coisas” (Fp 3:8). Haveria prova mais irresistível do que esta para mostrar quão profunda e transcendentalmente real Cristo era ao grande apóstolo? Todos os outros motivos, ambições e prazeres tornavam-se insignificantes à luz do tema cativante do apóstolo – “a Pessoa de Cristo”. Foi Ele quem encheu os pensamentos do apóstolo, moldou a sua vida, dirigiu o seu serviço, embelezou as suas palavras e permitiu-lhe dizer que estava “sempre regozijando” (II Cor 6:10).

Agora vamos inverter a pergunta feita no começo deste artigo:

“O que é o crente para Cristo?” … a resposta é a mesma: “Tudo!”

Por muitas razões, uma das mais poderosas delas sugerida pelas palavras grandemente mal entendidas no Evangelho de Mateus: “O reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; e encontrando uma pérola de grande valor, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a” (Mt 13:45-46). Isso não pode significar que o pecador vende tudo quanto tem para receber Cristo, porque, em primeiro lugar, o pecador nada tem de valor que possa vender; em segundo lugar, Cristo não pode ser comprado; e, em terceiro lugar, Cristo é o dom gratuito de Deus a nós todos.

O trecho apresenta a verdade gloriosa de que Cristo amou a igreja e a Si mesmo Se entregou por ela (Ef 5:25). Pérolas não se acham na superfície, mas na profundidade, e o Senhor Jesus desceu à profundeza da agonia do Calvário para conseguir aquela pérola. Verdadeiramente “Ele vendeu tudo quanto tinha” – deu-Se a Si mesmo. E agora a pérola é d’Ele – comprada pelo enorme preço do Seu precioso sangue.

É interessante traçar os títulos diferentes dados aos crentes no Novo Testamento. Mencionaremos dois deles para ver mais evidência da intimidade da nossa relação com Cristo. Um título está registrado em Hebreus: “Ele não Se envergonha de lhes chamar irmãos!” (Hb 2:11). Que graça maravilhosa! Não obstante a nossa disposição natural de frequentemente esconder a nossa luz debaixo do alqueire; apesar de todas as nossas fraquezas, Ele não se envergonha de nos chamar “irmãos”.

Permite-me apressar em prevenir contra o erro em que muitos cristãos caem quando se referem ao Senhor Jesus como seu “Irmão mais velho”. Em parte alguma das Escrituras temos permissão para tomar tal familiaridade. Pelo contrário, Ele disse aos Seus discípulos: “Vós Me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem; porque Eu o sou” (Jo 13:13).

Um outro título que é de muita estima é “os Seus” que sugere que somos o tesouro mais valoroso que Ele tem na terra (Jo 13:1). Todos os Seus pensamentos, propósitos e afeições estão centralizados em nós, Seus redimidos. Somos Seus por criação; Seus por conquista; Seus por aquisição; Seus porque fomos dados a Ele pelo Pai. Assim, de toda maneira somos “os Seus”. Podemos, portanto, contar com Ele para confortar-nos em toda a tribulação, sustentar-nos em toda a enfermidade; e fortalecer-nos em toda prova e assistir-nos em cada emergência.

Bem podemos louvar Seu glorioso Nome para sempre!

Ernest Barker – “Ecos do Serviço”

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