Justiça no Livro de Genesis

Como o Espírito de Deus introduz este assunto na Bíblia. Originalmente publicado nos primeiros números da revista “O Caminho”. Sem dúvida, a justiça é um tema principal da Bíblia inteira. Vamos ver outra vez como o Espírito de Deus introduz um importante assunto bíblico neste primeiro livro da “Biblioteca Divina”, mostrando todos os aspectos essenciais do mesmo. Em o Novo Testamento é a Epístola aos Romanos que expõe plenamente o assunto de justiça. Como é impressionante, pois, que as quatro referências à justiça no livro de Gênesis correspondem perfeitamente às quatro divisões principais da epístola aos Romanos. Frente a tais fenômenos, como podemos duvidar que toda a Escritura é divinamente inspirada?

Veja as referências então:

I – Gênesis 15:6 e Romanos 1 a 5: A Justiça de Deus Imputada ao Homem;

II – Gênesis 18:19 e Romanos 6 a 8: A Justiça no Homem Produzida por Deus;

III – Gênesis 18:25 e Romanos 9 a 11: A Justiça de Deus ao Tratar com os Homens;

IV – Gênesis 30:33 e Romanos 12 a 16: A Justiça de Homens, já Justificados por Deus, ao Tratar com outros Homens.

I – Gênesis 15:6 – “E creu ele (Abraão) no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça“; . É a primeira menção de justiça na Bíblia – e não é justiça humana, nem a justiça que o homem deve praticar, e sim a justiça divina imputada pela graça de Deus ao homem que crê na Sua palavra. Na primeira parte da epístola aos Romanos, tendo mostrado (Rm 1:18 a 3:20) que o homem não possui justiça própria – nem o gentio (1) – nem o judeu (2), e que “por isso nenhuma carne será justificada diante d’Ele pelas obras da lei” (Rm 3:20), Paulo afirma: “Mas agora se manifesta a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas”. Em Romanos 4 encontramos estas duas testemunhas: os profetas, com o testemunho de Davi (4:6-8), e a lei, com o exemplo de Abraão (4:1-5 e 4:9-23). De fato, a maior parte de Romanos 4 é uma exposição de Gênesis 15:6. Paulo mostra:

  1. Que justificação é pela graça de Deus e não pelas obras de homens ímpios (1-5);
  2. Que é pela fé e não tem nada a ver com circuncisão (9-12);
  3. Que é segundo a promessa de Deus e não pela lei (13-22);
  4. Que a justiça será imputada a nós também se crermos “n’Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor” (4:23 a 5:11).

Assim temos, nesta primeira referência, a justiça de Deus imputada ao homem.

II – Gênesis 18:19 – Diz Deus: “Porque Eu o conheço (a Abraão), que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo“. A justificação perante Deus é sem obras, porém sempre produz obras de justiça. Foi assim no caso de Abraão (Tg 2:21-23), que não somente praticou a justiça mas também ensinou todos de sua casa a fazerem o mesmo. As boas obras não são a condição de justificação, mas sempre e invariavelmente são o resultado.

É exatamente isto que Paulo nos ensina em Romanos 6 a 8. Depois de fazer a pergunta:

“Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde?” (Rm 6:1), e responder: “De modo nenhum”, ele mostra porque não devemos continuar no pecado:

  1. Por causa da morte de Cristo (Rm 6:6; 8:3-4);
  2. Por causa da ressurreição de Cristo (Rm 6:9,13; 7:4);
  3. Por causa do dom do Espírito Santo (Rm 8:4-14).

O batismo simboliza esta grande mudança: fomos crucificados com Cristo, ressuscitamos com Ele, e Seu Espírito, habitando em nós, dá-nos o poder para andar “em novidade de vida” (Rm 6:3-6): a justiça no homem produzida por Deus.

III – Gênesis 18:25 – No mesmo capítulo de Gênesis encontramos a terceira referência à justiça. Esta vez é a justiça de Deus em todos os Seus tratos com os homens: “Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Abraão baseia sua intercessão em favor dos justos entre os habitantes de Sodoma e Gomorra neste fato da justiça de Deus – não no Seu amor, e sim, no fato de Ele ser o Justo Juiz. Este justo (justificado pela fé e, consequentemente, justo na sua vida) conhecia a seu Deus, e é essencial orar assim, de acordo com a nossa compreensão da natureza divina.

Em Romanos 9 a 11 Paulo também está desejando a salvação de seu povo (9:1-3 e 10:1), mas reconhece, e claramente expõe, nestes três capítulos, a justiça do soberano Deus em todos os seus tratos tanto com os judeus quanto com as outras nações:

  1. Romanos 9: a justiça de Deus no passado em eleição – Ele é totalmente soberano;
  2. Romanos 10: a justiça de Deus no presente em salvação – Ele é divinamente longânimo (21);
  3. Romanos 11: a justiça de Deus no futuro na restauração de Israel – Ele é sempre fiel.

No fim de sua carreira Moisés ensinou os israelitas a louvar este Justo Juiz dizendo: “Ele é a Rocha, cuja obra é perfeita, porque todos os Seus caminhos juízo são. Deus é a verdade, e não há n’Ele injustiça; justo e reto é” (Dt 32:4). Vamos louvá-o também, contemplando a justiça de Deus ao tratar com os homens.

IV – Gênesis 30:33 – “Assim testificará por mim a minha justiça no dia de amanhã…“. Jacó sofreu muita injustiça da parte de seu sogro Labão, mas sempre deixou seu caso com Deus, sendo submisso a seu patrão e servindo fielmente apesar das privações. Aqui nós temos uma linda ilustração do espírito de submissão a Deus (e a toda autoridade ordenada por Ele), e mansidão para com os homens, que Paulo recomenda em Romanos 12 a 16.

O resultado de justificação pela fé não é como o orgulho e hipocrisia dos fariseus, que eram somente exteriormente justos, mas com amor fraternal não fingido, e preferindo-se em honra uns aos outros (Rm 12:10-11), os verdadeiros justos revestem-se do Senhor Jesus (Rm 13:14) e, “concordes, a uma boca”, glorificam “ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15:6). Assim será manifestada a justiça de homens, já justificados por Deus, ao tratar com outros homens.

Talvez o leitor gostaria de considerar também as seguintes referências onde a palavra justo ocorre no livro de Gênesis. No caso de Noé, Hebreus 11:7 mostra que ele se tornou justo pelo mesmo meio que Abraão: “Pela fé Noé… foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé”. Gênesis 6:9 (Noé, em suas gerações); 7:1 (diante de Deus); 18:23-28 (5 vezes – são dignos de intercessão); 20:4 (de uma nação, em relação a um determinado pecado. A Atualizada tem “inocente”); 38:26 (relativamente – um pecador mais justo que outro).

Terry Julian Blackman

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