A Estrada de Emaús

Qual é a maior prioridade que precisa ser encarada nas nossas igrejas, hoje? Tal pergunta provoca uma lista de necessidades, cada uma merecendo consideração. Mas, o escritor está convencido de que a maior prioridade é, obrigatoriamente, que “precisamos ver a Cristo”. Os escritos de Lucas nos mostram o que pode acontecer quando perdemos Ele de vista, e nos dá o segredo de como sanar isto e ser abençoado. Este artigo retrata a “Depressão Espiritual” e sua cura, baseado em Lc 24:17-35.

Trata-se de um capítulo de contrastes onde Lucas percorre o espectro das emoções humanas. “Doutor Lucas” nos dá o relato completo do encontro do Senhor com dois discípulos tristes, depois da Sua ressurreição.

O capítulo começa com pessoas deprimidas, desanimadas, desiludidas e desapontadas. Mas logo em seguida temos cenas onde estas mesmas pessoas se encontram adorando o Senhor e com grande alegria louvando e bendizendo a Deus.

O capítulo começa com corações quebrantados e em seguida temos corações ardentes; de mentes fechadas chegamos a entendimentos abertos, de céus que pareciam de cobre, a céus abertos que receberam o seu Senhor na glória. Começa com pessoas deixando Jerusalém e tudo que isto significava, e termina com pessoas continuamente no templo louvando e bendizendo a Deus.

Qual foi a causa principal da depressão espiritual que veio sobre os corações, mentes e espíritos deste dois cristãos? Quais circunstâncias os levaram a tanto desespero? A causa principal da sua condição parece estar no verso 16: “… os olhos deles estavam como que fechados para que não O conhecessem”. Tinham tirado o seu olhar de Cristo. Assim como Pedro, na tempestade, quando ele tirou os seus olhos do Senhor, ele começou a afundar, assim também eles, tendo desviado o seu olhar do Senhor, se afundaram em desespero.

Felizmente o capítulo não termina assim, mas continua descrevendo os acontecimentos que levaram a um fim feliz. Veja a reviravolta na vida destes dois discípulos – de desespero a deleite! Isto aconteceu por causa de uma coisa, e o segredo é desvendado no verso 31: “Abriram-se lhes os olhos, e O conheceram”.

Foi o fato de que, no espaço de poucas horas, eles tiveram o seu olhar totalmente redirecionado, e estavam novamente ocupados com Ele. Foi isto que fez toda a diferença na vida daqueles discípulos tristes, aquele dia, na estrada de Emaús.

Não é verdade que esta situação se apresenta vez após vez nos nossos dias? Sabemos que hoje mesmo há corações quebrantados; sonhos despedaçados; planos que não deram certo; mentes confusas; espíritos feridos e quebrantados. Não há nenhum cântico nas vidas. Talvez, como estes discípulos, as pessoas têm virado as costas ao povo de Deus e ao lugar onde comunhão doce era anteriormente gozada.

Não desanime. É possível redirecionar o alvo ao Cristo de Deus, e ser cheio de alegria santa, porque mais uma vez temos visto a Sua face, e Ele se tornou o centro de nossas vidas, o objeto das nossas afeições.

Em primeiro lugar, o doutor Lucas nos conta quais as circunstâncias que acompanham a depressão espiritual. Depois ele nos conta o que causou o restabelecimento tão dramático, que fez com que estes discípulos novamente servissem ao Senhor, em atitude de adoração.

Sintomas de Depressão Espiritual

Cristo, um Estranho

Ficamos surpresos ao ver estes discípulos, que anteriormente conheciam o Senhor tão intimamente, perguntando a Ele: “És Tu só peregrino?” É evidente que estavam longe dos dias alegres e da intimidade que anteriormente gozavam com Ele. Cristo agora é uma figura distante e irreconhecível na vida deles.A situação se repetiu depois da ressurreição do Senhor. Lá no jardim, Maria, cega pelas lágrimas, deixa de reconhecer o Senhor e pensa que Ele é “o jardineiro”. Os discípulos em João 21, depois de pescarem a noite toda, veem um estranho na praia, e “não conheceram que era Jesus”. Assim também, mesmo depois de Se fazer conhecido aos dois no caminho de Emaús, quando o Senhor apareceu a eles no cenáculo, “eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito”.

As dificuldades das circunstâncias e os fardos da vida podem nos afetar de tal maneira que deixamos de reconhecer o Senhor. Em tais ocasiões, podemos até começar a questionar se realmente O conhecemos!

Uma Visão Diminuída de Cristo e Sua Pessoa

Anteriormente, estes discípulos haviam confessado que Ele era o Senhor e Mestre. Ele era o Messias de Israel, o Vencedor que havia de vir, o Príncipe vitorioso. Pedro tinha confessado que Ele era o Cristo, o Filho do Deus altíssimo. Ele é descrito como “um profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e do povo”. Para alguns, isto pode ter sido um elogio adequado. O que tinha acontecido para diminuir a sua apreciação d’Ele, de Senhor, filho do Deus Altíssimo, Messias, Filho de Davi, a “um profeta”? As tristezas das circunstâncias tinham distorcido a visão deles e Cristo era agora somente um profeta.

Uma Visão Distorcida do Propósito e Controle Divinos

Note como estes discípulos viam a morte de Cristo. Eles disseram: “os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes …”. Eles viram as coisas do ponto de vista humano, e perderam de vista os propósitos de Deus nos assuntos dos homens. Na sua miopia espiritual, eles viram os sacerdotes e anciãos controlando e manipulado as coisas para proveito próprio.

Que contraste com Pedro no dia de Pentecostes. Sua visão espiritual foi restaurada, e ele disse: “O qual sendo entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus”! Pedro disse, em efeito: “Não importa o que vocês pensavam que estavam fazendo e controlando, vocês somente executaram o propósito Divino”. Pedro os está lembrando que Deus nunca abdicou do Seu trono, e está em controle absoluto de tudo.

Nunca se esqueça, querido filho de Deus, de que você também tem parte no determinado conselho e presciência de Deus e, na análise final, o curso dos acontecimentos não será estabelecido pelos homens. Não podemos permitir que a depressão espiritual ofusque estas verdades de tal forma que vemos os homens e sua influência como sendo muito maiores do que realmente são.

Interpretando Mal Acontecimentos Espirituais

Eles haviam interpretado mal as palavras do Senhor e a evidência clara de que Ele havia cumprido a Sua Palavra. Ele havia lhes falado da Sua morte e ressurreição, mas quando isto aconteceu, eles estavam cegos à maravilha de tudo isto. Eles estavam tão ocupados com os problemas que não reconheceram que a situação havia sido tão maravilhosamente revertida, muito além das suas maiores expectativas. Assim também em nossas vidas, podemos perder a alegria dos acontecimentos mais maravilhosos na esfera espiritual, e interpretar mal os propósitos e caminhos de Deus nas nossas vidas e circunstâncias, deixando de apreciar a Sua intervenção.

A Recuperação da Depressão Espiritual

O caminho de recuperação começou com os discípulos estando na presença do Senhor e contando a Ele todas as suas circunstâncias e sentimentos. O Senhor ouviu sem interromper, até que eles terminaram.

Recuperação espiritual começa exatamente neste ponto. O Senhor sempre está disponível a nós. Ele disse: “Nunca vos deixarei, nem vos desampararei”. Ele está sempre do nosso lado, mesmo quando estamos distantes d’Ele. Em graça paciente Ele nos acompanha através dos nossos dias de tristeza e aflição, e somente quer ouvir-nos contar a Ele todos os detalhes. Ele está interessado em tudo que é um problema para nós e que atrapalha a nossa vida espiritual. Querida alma sobrecarregada, entre na Sua presença Divina em comunhão e confissão, e Ele restaurará a sua alma.

Voltar ao Livro

Depois dos discípulos terem falado tudo que os perturbava, este Estrangeiro começou a repreende-los amavelmente pela sua perspectiva histérica dos acontecimentos. Pouco a pouco Ele acalmou as suas almas aos mostrar-lhes que tudo estava bem. Ele começou a abrir as Escrituras aos seus corações e mentes. Começando por Moisés e os Profetas, e depois com os Salmos, Ele revelou os propósitos soberanos relacionados a Ele mesmo, e pouco a pouco substituiu o seu medo por segurança.

Este é o segundo passo a ser tomado na recuperação de depressão espiritual. Precisamos voltar ao Livro e ver a Ele e os propósitos divinos que cercam a Ele e a nós. Não há terapia semelhante a esta. Infelizmente, muitos hoje em dia não são pessoas do Livro, e caem no lamaçal do desânimo. Nossa paz e confiança espiritual dependem de passarmos tempo com o Livro.

Fazê-Lo Parte do Círculo Familiar

Quando os discípulos chegaram ao fim da sua viagem, eles como que iam entrar em sua casa e o Senhor como que ia prosseguir o Seu caminho. Neste ponto os discípulos constrangeram o Senhor a ficar com eles. O Senhor graciosamente aceitou. Foi este passo que levou à revelação que transformou as suas vidas e os transformou em servos ativos, dinâmicos e adoradores de Cristo, quando Ele finalmente Se fez conhecido a eles no partir do pão.

Este é um ponto crítico na restauração e transformação espiritual – convidar a Cristo a entrar em nosso lar! Quão triste é ver que muitos cristãos são cristãos domingueiros. Será que Cristo é bem-vindo em seus lares? O seu lar é o tipo de lugar onde Cristo se sentiria à vontade?

Em Apocalipse 3, o Senhor é visto do lado de fora da porta fechada, batendo, buscando entrada. Nós evitamos a mensagem principal desta figura ao aplicá-la somente no Evangelho, para os descrentes, enquanto que a interpretação primária seria aplicá-la ao cristão. Poderíamos cantar o hino da seguinte maneira:

Tens lugar pra Jesus Cristo

Que levou teu fardo sobre a cruz?

Ele bate à porta, paciente:

Cristão, abrir-lhe-ás?

Lugar para diversão e trabalho,

Mas para Cristo crucificado

Nenhum lugar disponível

Neste coração que Ele comprou?

O que trouxe reconhecimento e regozijo aos discípulos foi que mais uma vez o Senhor fez algo que tinha feito anteriormente no cenáculo. Ele tomou o pão nas Suas mãos, o abençoou, partiu e deu-o a eles. Imediatamente eles O reconheceram. A Ceia do Senhor nos oferece uma oportunidade singular de ver o Senhor. É ali que os símbolos da Sua paixão falam de maneira eloquente às nossas almas. Se temos estado gozando comunhão e confissão na Sua presença, se temos estado na Sua companhia apreciando a Sua Palavra durante a semana, descobriremos que o partir do pão será o ponto alto da nossa apreciação d’Ele.

Note, por favor, a transformação imediata em suas vidas. Uma vez que eles O viram e O reconheceram tudo mudou em suas vidas. Eles foram vistos de volta no Templo, adorando, cheiros de alegria, louvando e bendizendo a Deus.

Ao chegarmos ao final deste estudo, esperamos que a experiência destes discípulos primitivas possa ser repetida hoje, e que possamos ser pessoas transformadas, pessoas que sabem adorar e louvar ao Senhor.

W. H. Burnett

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