Uma Encorajadora Visão de Cristo

Os quatro Evangelhos terminam as suas narrativas com a volta do Senhor Jesus à glória. Marcos e Lucas fazem-no diretamente, enquanto Mateus e João, embora indiretamente, mencionam-na também. Mateus, ao registrar a Grande Comissão e João, quando menciona a promessa da Sua bem-aventurada volta. O relato de Lucas traz, no trecho em foco, palavras de sublime encorajamento ao povo do Senhor e aos Seus obreiros. Leia Lucas 24.36-49.

1. O RETUMBANTE TRIUNFO DE CRISTO (36-43)

a) Jesus Cristo é um Redentor vivo! Nossa fé não está baseada em conceitos de homens falíveis e mortais (Buda, Confúcio, Kardec, Maomé), cujos restos mortais, desfeitos no pó, nada podem fazer por seus adeptos, mas no Redentor que morreu, sim, mas triunfou sobre a morte. Uma das glórias da nossa fé é o túmulo vazio do nosso Mestre.

b) A ocasião. “Falavam ainda…”. (36). Comentavam o fato auspicioso da ressurreição, confirmada pelo testemunho dos discípulos que tinham vindo de Emaús (33-34). i. As mulheres testificaram. ii. Pedro e João viram o túmulo vazio e Pedro testificou que o Senhor lhe aparecera. iii. Os viajantes de Emaús deram, também o seu testemunho.

c) A prova. Houve dúvida: “… Surpresos e atemorizados acreditavam estarem vendo um espírito” (37), daí a pergunta: “Por que estais perturbados? e por que sobem dúvidas aos vossos corações? (38) /Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai que um espírito não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho (39). /Dizendo isto mostrou-lhes as mãos e os pés(40). /E por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? (41). /Então lhe apresentaram um pedaço de peixe assado e um favo de mel (42). /E Ele comeu na presença deles” (43). d) O encorajamento. Ele apresentou-Se “no meio deles”. Quando nos ocupamos com Ele podemos contar com a Sua presença.

i. No meio oferecendo paz. Sua saudação era comum, mas, nos Seus lábios era especial. O profeta anuncia-O como “Príncipe da paz”(Is 9.6).Anjos anunciaram no Seu nascimento: “Paz na terra, aos homens” (Lc 2.14). Ele prometera: “Deixo-vos a paz”(Jo 14.27). Agora Ele apresenta as Suas credenciais: Suas mãos e pés feridos. Ele “fez a paz pelo sangue da Sua cruz” (Cl 1. 20). Somente Ele pode proporcionar paz, quer individual, quer coletivamente.

ii. No meio proporcionando alegria. Não acreditaram “por causa da alegria” (41). João diz que eles “alegraram-se ao verem o Senhor” (Jo 20.20). Ele é a única fonte segura de alegria. Paulo recomenda, em Fp 4.4: “Alegrai-vos sempre no Senhor”. Ele dá o seu testemunho, em Fp 4.10: “Alegrei-me sobremaneira no Senhor”. Só Ele pode proporcionar alegria, quer individual, quer coletivamente.

Ele está vivo! A morte e as forças do inferno estão vencidas! Ele, “despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). O Seu retumbante triunfo é um sublime encorajamento para o Seu povo, o Seu tesouro peculiar. Paulo, em 1 Cor 15, combatendo os que negavam a ressurreição, apresenta, nos vv. 12 a 19, algumas alternativas dolorosas do que seria se, de fato, não houvesse ressurreição, mas a partir do v. 20, Ele apresenta a majestosa declaração do triunfo retumbante do crucificado: “De fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem”. No v. 55 ele lança o estupendo desafio: “Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?” E porque Ele triunfou, nós somos triunfantes e podemos dizer: “Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Com toda razão, pois, o apóstolo conclui com uma palavra de encorajamento: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o nosso trabalho não é vão” (1 Cor 15.58).

2. A MAJESTOSA CENTRALIDADE DE CRISTO (44-46)

a) O fato glorioso (44-45). Cristo Jesus é o Centro da revelação bíblica e profética. Ele afirma que o Velho Testamento, a Bíblia inteira de então, testemunhava d’Ele: a “Lei de Moisés”– a Torah, “os Profetas”– os Nebiim e “os Salmos” – os Kethubim, sendo esta última parte assim chamada porque nela os salmos apareciam em primeiro lugar. Ele lhes falara de tudo quando d’Ele estava escrito naqueles livros. Ele fizera o mesmo em Emaús, quando, “começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que d’Ele constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). Em Jo 5.39 e 46 Ele adverte os opositores: “Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim… Se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito”. Paulo diz, no primeiro capítulo de Romanos que o Evangelho de Deus, que “foi outrora prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras” é “…com respeito a seu Filho”. Portanto, Cristo é o Grande Tema da revelação bíblica e profética.

Ele “abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras”. Eu diria que Ele desanuviou, desembaraçou as suas mentes. É o de que precisamos. O bom entendimento da Palavra é indispensável e nos levará a conhecê-lo mais e melhor, pois toda a Escritura testifica d’Ele!

b) O encorajamento. Ele disse que “importava se cumprisse tudo…”. Nisto Ele fazia-os ver que tudo foi cumprido! De fato Ele é i. “A semente da mulher”, de Gn 3.15. ii. “O Leão de Judá”, de Gn 49. 9-10. iii. O Cordeiro Pascal tipificado em Exodo, profetizado por Isaías, apresentado pelo Batista e, finalmente, imolado no Calvário. iv. O Sumo Sacerdote tipificado por Arão, mas infinitamente superior a Ele, pois foi o sacerdote e, ao mesmo tempo, o sacrifício. v. O Seu nome, Sua linhagem, o lugar do Seu nascimento, o lugar onde concentraria a maior parte do Seu ministério, Sua rejeição, morte, sepultamento e ressurreição, tudo profetizado e meticulosamente cumprido. “Está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia. É Pedro quem afirma que os profetas, pela revelação do Espírito Santo, davam “de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo, e sobre as glórias que os seguiriam”(1 Pe 1.11). E quão encorajadora é a sua declaração a seguir, afirmando que “a eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam estas cousas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho, cousas essas que anjos anelam perscrutar (1 Pe 1.12).

Isto nos dá a certeza de que com a mesma exatidão serão cumpridas as profecias futuras. Ele disse: “Voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais vós também. Os mensageiros celestiais disseram por ocasião da Sua partida: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). As epístolas apostólicas e o Apocalípse apresentam com grande ênfase a promessa da Sua volta e asseguram-nos que “aquele que vem virá, e não tardará”. Que encorajamento sublime!

c) A exortação. Temos reconhecido a centralidade absoluta do nosso Senhor? É Ele o Centro e a motivação do nosso viver? Podemos dizer como Paulo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”? É Cristo o Centro da nossa pregação? “Porque tanto judeus pedem sinais, como gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Cor 1.22-24). “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Cor 2.2).

3. O Glorioso Programa de Cristo (47-48)

Ele tem uma programação a ser desenvolvida no mundo.

a) A atividade —A pregação do Seu Nome. É o “Nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9), o Nome que está exaltado “acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro”(Ef 1.21). É o Nome do Salvador: “… E lhe porás o nome Jesus porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”(Mt 1.21). “…Nenhum outro nome há dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12).

b) O propósito – “A remissão de pecados”. O sacrifício do Senhor Jesus resolveu o problema do pecado. “Ele pode salvar totalmente”(Hb 7.25). “Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo o que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10.43).

c) A amplitude – “A todas as nações”. “Deus deseja que todos os homens sejam salvos…”. (1 Tm 2.4a). Ele amou o mundo e deu Seu filho para salvar a todo o que crê. “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11). O Senhor quer que Seu Evangelho seja pregado em todo o mundo, a toda criatura. Ele requer que “todos, em toda parte se arrependam” (At 17.30).

d) A responsabilidade – “Vós sois testemunhas”. Anjos não podem testemunhar, descrentes, que não O conhecem, não podem testemunhar. Isto tem de ser feito pelo Seu povo redimido, o Seu povo peculiar, o Seu particular tesouro!

Isto requer uma exposição clara, coerente e sistemática da Palavra, pois “Deus deseja que todos os homens… cheguem ao pleno conhecimento da Verdade”. Temos de ministrar a mensagem da salvação a um mundo perdido e a mensagem de edificação, instrução para o crescimento espiritual dos salvos.

4. A Preciosa Provisão de Cristo (49)

Ele equipa os Seus servos para a execução do Seu programa.

a) A Promessa – o Espírito Santo e consequente revestimento de poder. Não poderemos executar o Seu programa com as nossas próprias forças. Precisamos de um poder sobrenatural e este está à nossa disposição: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”.

i. É um selo, a marca da propriedade divina, recebida na conversão (Ef 1.12).

ii. É um penhor, a garantia divina do cumprimento das Suas promessas: “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio. /Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, /que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações”(1 Cor 1.20-22). É uma garantia da complementação final da nossa redenção: “O qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da Sua glória”.

iii. É uma unção, credenciando-nos para a execução do nosso sacerdócio.

iv. É uma habitação permanente (Jo 14.16-17).Que conforto traz-nos este fato!

v. É o Intérprete e Revelador de Cristo: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; /Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as cousas que hão de vir. /Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.12-14). Quem fala pelo Espírito glorifica a Cristo e, não a si próprio.

vi. É o Realizador da obra de Cristo (Jo 16.8-11). Nós pregamos. Ele convence!

b) A condição – “Permanecei na cidade”. A recepção da promessa estava condicionada à obediência àquele mandamento. Hoje, a condição única para receber é o arrependimento e a fé no Salvador, mas para desfrutar do poder do Espírito ainda há condição: “Enchei-vos do Espírito”.

c) O Encorajamento. Não estamos sós ao obedecermos ao Seu “Ide…”. Temos a Sua autoridade: “Toda autoridade me foi dada…”., a Sua perpétua presença: “Estou convosco todos os dias”, e a Sua capacitação: “…Do alto, sereis revestidos de poder”.

Precisamos, como o profeta Isaías, de uma visão: da Sua glória: “Eu vi o Senhor”, da nossa indignidade: “Ai de mim”, dos Seus infinitos recursos: “…Tua iniquidade foi tirada…”., e da grande necessidade: “A quem enviarei! . Que digamos como o profeta: “Eis-me aqui”!

Luiz Soares – Vigiai e Orai – Edição 82 – Outubro a Dezembro de 1997.

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