Salvação e Galardão

George Cutting apresentou esta questão de forma bíblica e clara em seu livreto intitulado Segurança, Certeza e Gozo da Salvação. Ele disse que “a obra de Cristo e a salvação do crente ficam de pé ou caem juntas”. Isso é, ensinar que a salvação pode ser perdida é insinuar que a obra de Cristo pode ser também abalada. Ele continua dizendo: “O comportamento do crente e o seu gozo ficam de pé ou caem juntos”. Observe como Sr. Cutting faz distinção entre o gozo da salvação e a certeza da salvação. O gozo que está relacionado com o comportamento do crente. “Se fosse possível a obra de Cristo cair (e, graças a Deus, isso nunca, nunca poderá acontecer) a salvação cairia juntamente com ela. Porém, quando tropeça (e importa vigiar porque isso é possível), a sua alegria falta-lhe também”.

Prezado leitor, você vê onde o está erro de muitos filhos de Deus? Eles confundem o gozo com a certeza da salvação. Preste atenção nesta importante definição do Sr. Cutting: “A nossa segurança depende da obra que Cristo fez por nós. A nossa certeza depende da Palavra que Deus fala. O nosso gozo depende de não entristecermos o Espíritoque habita em nós”. Se um filho desobedeceu seu pai praticando algo que não é do seu agrado, o que acontece? Ele deixa de ser filho? Não! O parentesco entre eles deixou de existir? De modo nenhum! A comunhão entre ele é que foi rompida. Por isso “o parentesco depende do nascimento e a comunhão do comportamento”.

O Inferno é a Ameaça?

Devemos observar que a Bíblia nunca coloca o temor do inferno diante do crente como incentivo para que ele prossiga na fé e tenha um viver santo. A Palavra de Deus declara que o crente que peca é castigado se ele não confessar e abandonar o pecado. A filiação com Deus depende do novo nascimento; a comunhão depende da conduta. Por isso, pode haver união sem comunhão. Cremos que este é o sentido das palavras do Senhor Jesus em João 15:2, 6 e do autor da carta aos Hebreus no capítulo 6:7-8.

Por outro lado, a vida eterna nunca é colocada diante do santo ou do pecador como recompensa. O crente não serve a Deus para escapar do inferno nem para ganhar o céu. A vida eterna depende do nascimento de cima, porém, o galardão depende da conduta.

O Galardão de Cristo

A distinção entre dádiva e recompensa (galardão) nas Escrituras é bem clara. A graça é imerecida; é dom gratuito de Deus, recebida pela fé, sem dinheiro e sem preço. Na Graça o melhor serviço é sem valor, a obrigação não é reconhecida e o valor não é considerado. Porém, o Galardão é merecido; é o salário pelo serviço prestado, recebido pelas obras através do labor e sacrifício. No Galardão o menor serviço é lembrado, a obrigação é reconhecida e o valor é considerado.

O Galardão depende totalmente do crente; a Graça depende totalmente de Cristo. O Galardão olha para a fidelidade de crente; a Graça olha para a fidelidade de Deus. O galardão reconhece o mais simples serviço; a Graça ignora o melhor serviço.

A linguagem do Galardão é: “Vosso trabalho de amor”. A linguagem da Graça é: “não vem de vós”. A mensagem do Galardão é: “Servi ao Senhor”. A mensagem da Graça é: “Àquele que não trabalha”. A voz do Galardão é: “Fostes fiel no pouco”. A voz da Graça é: “Nisto está o amor”.

Que Recompensa Teremos?

Um dia os discípulos de Jesus Lhe disseram: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos; que recompensa, pois, teremos nós? Ao que lhes disse Jesus: Em verdade vos digo a vós que me seguistes, que na regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono da sua glória; sentar-vos-eis também vós sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (Mt 19:27-28). Os “tronos” são dados como recompensa e não como dádiva. “E todo o que tiver deixado, casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19:29).

Não devemos nos esquecer que o Galardão é oferecido aos justos; a Graça é oferecida aos perdidos. O Galardão opera entre os salvos, pois Deus não reconhece qualquer valor espiritual nos não regenerados. “Não há ninguém que faça o bem; nem um só”. O Galardão começa a operar aqui e agora: “Ninguém há que tenha deixado casa… que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casa”… (Mc 10:29-30). Todavia, o Galardão não será provado em sua plenitude senão na volta do Senhor Jesus: “Eis que cedo venho e está comigo a minha recompensa para retribuir a cada um segundo a sua obra” (Ap 22:12).

Assim, que as Promessas do Galardão Possam!

  • Inspirá-lo a Realizar Maiores Tarefas para Deus: “Amai os vossos inimigos… fazei o bem… e grande será a vossa recompensa” (Lc 6:27, 35); “E aquele que der até mesmo um copo de água fresca… de modo algum perderá a sua recompensa” (Mt 10:42); “Conheço as tuas obras… amor… fé… darei a cada um segundo as suas obras” (Ap 2:19, 23);
  • Inspirá-lo a Sofrer Mais pelo Mestre Amado: “Bem-aventurados sereis quando… vos odiarem… expulsarem… grande é o vosso galardão” (Lc 6:22-23); “Conheço a tua tribulação… tua pobreza… dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:9-10); “Combati o bom combate… acabei a carreira… guardei a fé… desde agora a coroa da justiça me está guardada”… (Tm 4:7-8);
  • Inspirá-lo a Servir Mais ao Senhor da Seara: “Porque o Filho do homem há de vir… e então retribuirá”… (Mt 16:27); “Bem-aventurado aquele servo… quando ele vier… o porá sobre todos os seus bens”(Mt 24:46, 47); “Então veio o tempo… de dares recompensa aos teus servos, os profetas, e aos santos… e reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos” (Ap 11:18; 20:4).

Deus é Galardoador

As Escrituras ensinam que a vida eterna é alcançada pela graça por meio da fé. Porém, o galardão vem como consequência das obras realizadas depois da fé. Todos os que creem estão participando de uma corrida e são comparados a um atleta que luta, um guerreiro que batalha, um lavrador que semeia um pedreiro que edifica (I Cor 9:24-27; II Tm 2:3-6; I Cor 3:9-11). Todas estas comparações indicam esforço e descansam sobre a revelação fundamental de que “Deus é galardoador dos que o buscam” (Hb 11:6). “Muitos discípulos ainda têm os olhos cegados para este mistério do galardão, o qual é um mistério aberto na Palavra. Nós entramos (na vida eterna) por meio da justiça imputada, porém, depois de termos entrado por fé as nossas obras é que determinam nosso posto, nosso lugar e nossa recompensa” (A. T. Pierson).

Esta é, sem dúvida, uma verdade para a Igreja de Jesus Cristo. “Eis que cenho venho e está comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo a sua obra”(Ap 22:12). A quem o Senhor disse estas palavras? “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas” (22:16).

O Que Deus Recompensará?

Devemos lembrar que a recompensa é como espada de dois gumes: “Vós, servos, obedecei… sabendo que do Senhor recebereis a recompensa da herança; servi a Cristo, o Senhor” porque “quem faz injustiça receberá a paga da injustiça que fez; e não há acepção de pessoas” (Cl 3:22-25). Vejamos algumas das coisas que o Senhor há de retribuir naquele dia:

  • Piedade e Conduta Semelhantes de Deus: “Amais os vossos inimigos, fazei o bem, emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa recompensa e serei filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6:35). Aqui a recompensa gira em torno da conduta e caráter à semelhança do nosso Pai celestial. Devemos amar a todos indistintamente assim como faz nosso Pai. Agindo assim é que seremos “filhos” (Ruiós = filhos maduros, grego) do Altíssimo;
  • Devoção Secreta: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”(Mt 6:6). Tal oração será respondida e recompensada;
  • Nossa Atitude de Coração: “Não julgueis e não sereis julgados… perdoai e sereis perdoados” (Lc 6:37). Um servo do Senhor disse que “nossa vida está colocando, palavra por palavra, à sentença sobre nós nos lábios de Cristo. A bondade e a glória são apenas parte de um todo: a bondade é o lado do sofrimento da glória e a glória é o lado resplandecente da bondade” (D.M.P.);
  • Nosso Serviço: “E aquele que der até mesmo um copo de água fresca a um destes pequeninos, na qualidade de discípulo, em verdade em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa”(Mt 10:42). Todo serviço que prestarmos ao Senhor será recompensado. As medidas da recompensa serão devidamente pesadas pelo Senhor: “Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá a recompensa de justo” (Mt 10:41).

Estas declarações manifestam de forma clara a tremenda e bendita verdade conhecida como a “lei da semeadura”: “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque quem semeia na sua carne, na carne ceifará corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gl 6:7-8). Lamentavelmente, quando lemos estas palavras nossas mentes se voltam para o problema do pecado. Entretanto, o sentido aqui é mais amplo, pois Paulo continua dizendo… “façamos o bem a todos, principalmente aos domésticos da fé” (verso 10), e no versículo 6 ele disse: “E o que está sendo instruído na palavra, faça participante em todas as boas coisas aquele que o instrui”. Está claro que o contexto aqui é semear o bem através das boas obras. A expressão “levai as cargas uns dos outros” (verso 2) está intimamente ligada com a questão das nossas posses.

O Melhor Comentário do Salmo 37:3

A. B. Simpson contou que John Wesley enviou certa vez uma carta a um ministro pobre. Ela continha as palavras “confia no Senhor e faze o bem… e te alimentarás em segurança” (Sl 37:3). Dentro da carta ele colocou também uma oferta em dinheiro mas nada falou sobre ela. Após receber a carta com a oferta, o tal ministro lhe respondeu: “Caro Sr. Wesley, como poderei agradecer o bastante por sua carta e dádiva? Tenho lido várias vezes este versículo e muitos comentários sobre ele, porém o seu foi o melhor comentário que já vi”. Não devemos esquecer, irmãos, do lado pratico da Palavra do Senhor (Tg 2:15-16)

  • Nossos Motivos: “Guardai-vos de fazer as vossas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus” (Mt 6:1). O Senhor vai recompensar principalmente o “motivo” que nos levou a fazer algo para Ele. Não apenas as boas obras que contam, mas também o motivo que nos levou a praticá-las. “O Senhor… trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor”(I Cor 4:5). Deus concede a salvação não merecida, mas nunca o louvor não merecido. “A exaltação na Era Vindoura será na proporção do serviço humilde na Era Presente”. “Qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos” (Mc 10:43-44).
  • Nosso Sofrimento: “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do homem. Regozijai-vos nesse dia e exultai, porque eis que é grande o vosso galardão no céu” (Lc 6:22-23). Esta foi a experiência de Moisés; ele teve “por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa” (Hb 11:26). Paulo foi provavelmente, aquele que melhor conheceu o valor do Prêmio e estas foram suas palavras: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz a nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória” (II Cor 4:17). Este mesmo princípio da recompensa, operou na vida do Senhor Jesus: “O qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz” (Hb 12:2).

Nenhum discípulo sábio há de negligenciar tão grande volume de textos bíblicos ou lançar fora tão grande incentivo para a santidade. Nossa descoberta desta verdade no Tribunal de Cristo será tarde demais.

Prezado irmão em Cristo, medite nestas palavras com oração diante do Senhor. Cada palavra, pensamento ou ato nosso é como uma semente que lançamos no solo. Um dia a colheita surgirá: será ela linda ou alarmante? Por isso devemos semear no Espírito e não na carne. Devemos considerar seriamente estes quatro pontos: quando semeamos, o que semeamos, quando semeamos e o porque semeamos.

“OLHAI POR VÓS MESMOS, PARA QUE NÃO PERCAIS O FRUTO DO VOSSO TRABALHO, ANTES RECEBAI A PLENA RECOMPENSA” (II Jo 8).

Extraído da Revista “Palavra Profética”, 1987.

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