Sabedoria – Eclesiastes

Autor: Salomão — 931 a.C. — O nome Eclesiastes deriva do termo grego Ekklesia (“Assembleia”) e significa “Aquele que Fala a Uma Assembleia”. O termo hebraico correspondente é Cohelet, que significa “Aquele Que Convoca Uma Assembleia” recebendo muitas vezes a tradução de “Professor” ou “Pregador” em outras versões da Bíblia. Eclesiastes e, geralmente creditado a Salomão (cerca de 971 a 931 a.C.), escrito em sua velhice. O tom pessimista que impregna o livro talvez seja um efeito do estado espiritual de Salomão na época (1Rs 11). Embora não mencionado em 1Rs, Salomão provavelmente recobrou a consciência antes de morrer, arrependeu-se e voltou-se para Deus. Eclesiastes 1.1 parece ser uma referência a Salomão: “Palavra do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”. Alusões à sabedoria de Salomão (1.16), à riqueza (2.8), aos servos (2.8), aos prazeres (2.3)e a atividade de edificação estão espalhadas por todo o livro.

O Contexto

O livro evidencia um período em que, para o autor, as soluções tradicionais pras as grandes questões da vida, particularmente para o sentido da vida, perderam a sua relevância. Ao invés de responder estas questões com citações da Escritura, o Pregador introduz uma metodologia baseada na observação e na indução. A sabedoria, quando encontrada em outra literatura sapiencial da Bíblia (Jó, Provérbios e alguns Salmos), é sinônimo de virtude e piedade; e sua antítese, a loucura, representa a maldade. No livro de Eclesiastes, a palavra “sabedoria”, às vezes, é usada nesse sentido quando se trata da interpretação israelita tradicional sobre a sabedoria (7.1 – 8-9; 10.1 – 11.16). Mas no capítulo de abertura (1.12-18), o autor lida com a sabedoria enquanto o processo de puro pensamento, semelhante à filosofia frega, com questionamento dos valores absolutos. Mesmo sem contestar a existência de Deus, a qual confere sentido à criação, o Pregador está determinado a procurar esse sentido através da sua própria experiência e observação, a fim de poder verificar esse sentido pessoalmente e transmiti-lo aos seus discípulos.

O Conteúdo

O livro de Eclesiastes apresenta todos os indícios de ser um ensaio literário cuidadosamente composto que precisa ser compreendido em sua totalidade antes de poder ser entendido em parte. O Conteúdo do livro é definido por versos quase idênticos (1.2; 12.8), que circunscrevem o livro ao antecipar e resumir as conclusões do autor. O tema é definido em 1.3: “Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?” Ou, pode a verdadeira sabedoria ser encontrada por um ser humano à parte da revelação de Deus? A busca do Pregador é por algum tipo de valor (“vantagem) fixo, imutável, que possa ser achado nesta vida (“debaixo do sol”), que possa servir como base de uma vida adequada. O termo hebraico traduzido pro “vantagem” é Yitron (1.3) e também pode ser traduzido por “ganho”, “valor”. “Vaidade” é uma palavra –chave no livro, traduzida do termo hebraico Hebel (“fôlego”), indicando assim aquilo que é mortal, transitório e efêmero. Tentando cada um dos caminhos propostos pela humanidade para alcançar o valor procurado, ele os acha evasivos (“aflição de espírito”), fugazes e transitórios (“vaidade”). A “sabedoria” de 1.12-18 está desprovida de valor verdadeiro. E a resposta também não é encontrada no prazer, na riqueza, em grandes realizações (2.1-11), em um doutrina de compensação (2.12-17) ou no materialismo (2.18-26). Qual deve ser nossa atitude diante do fato de que nem as realizações nem as coisas materiais são Yitron, ou seja, não têm valor permanente? A resposta introduz o tema secundário do livro: devemos desfrutar tanto a vida como também as coisas que Deus nos tem concedido (3.11-12; 5.18-20; 9.7-10), lembrando que, no final, Deus nos julgará pelo modo como fizemos isso (11.7-10).

Mesmo a própria vida humana, em qualquer sentido humanista, secular, não pode ser considerada como o Yitron que o Pregador procura. Mesmo a relação de vida e morte é um tema subordinado no livro. Mas retomando à busca principal do Pregador: será que essa busca está destinada a terminar (12.8) como começou (1.2), numa nota de desespero? A constante investigação do Pregador por um sentido para toda a existência demonstra que ele é um otimista, não um pessimista, e o seu fracasso em descobrir algum valor absoluto, permanente, nesta vida (“debaixo do sol”), não significa que a sua busca seja um fracasso. Ao contrário, ele se acha forçado (pela observação de Deus pôs ordem no universo quando este foi criado, 3.1-14) a buscar o valor que tanto procura no mundo do porvir (não “debaixo do sol”, mas “acima do sol”, por assim dizer). Embora não afirme isso especificamente, a lógica que envolve toda a sua busca compele a encontrar o único verdadeiro Yitron no temor (reverência) e na obediência a Deus (11.7-12.7). Isso é afirmado no epílogo: o dever de toda a humanidade é a reverência a Deus e o cumprimento dos seus mandamentos (12.13). Isso precisa acontecer, mesmo que durante esta vida não haja justiça verdadeira , pois Deus, no fim, trará a juízo tudo o que existe (11.9; 12.14). Com esta observação profunda o livro termina.

O Espírito Santo em Ação

Toda as referencias ao “espírito” em Eclesiastes são referentes à força vital que anima o ser humano ou o animal (3.18-21). Apesar disso, o livro antecipa alguns dos problemas enfrentados pelo apóstolo Paulo na implementação de dons espirituais em I Coríntios 12-14. As pessoas que acreditam que Deus lhes fale através do Espírito Santo em sonhos e visões (Jl 2.28-32; At 2.17-21) agiriam bem se prestassem atenção na sábia advertência do Pregador de que nem todo sonho é voz de Deus (5.3). Paulo aparenta ter isso em mente ao falar sobre os dons de línguas e profecias em I Coríntios 14.9, aconselhando uma manifestação ordenada, seguida de um julgamento da Assembleia sobre a declaração. Da mesma forma, a ênfase do Pregador na reverência e na obediência a Deus é paralela à preocupação de Paulo com a edificação da igreja (I Cor 14.5). Os verdadeiros dons espirituais – manifestações genuínas de ações ou expressões miraculosas – acontecem em espírito de reverência pra a glória de Deus através de Cristo e para a edificação dos crentes.

Esboço de Eclesiastes

1.1-2 – Prólogo

  • 1.1 – Identificação do Livro
  • 1.2 – Resumo das investigações do Pregador

1.3-11 – Estabelecimento do problema

  • 1.3 – Estabelecimento do problema: Pode-se encontrar algum calor verdadeiro nesta vida?
  • 1.4-11 – Exposição do problema: Um refutação das soluções humanísticas

1.12 – 2.26 – Tentativas de solução pra o problema

  • 1.12-18 – A refutação da razão pura: A sabedoria humana, sozinha, é inútil
  • 2.1-11 – O fracasso do hedonismo: O prazer não tem sentido em si mesmo
  • 2.12-17 – O fracasso da compensação: O sábio e o tolo encaram um fim comum
  • 2.18-26 – O fracasso do materialismo

3.1 – 6.12 – Desenvolvendo o tema

  • 3.1-15 – Inutilidade dos esforços humanos em mudar a ordem criada
  • 3.16-22 – Inutilidade de um fim igual a criaturas desiguais
  • 4.1-3 – Inutilidade de uma vida oprimida
  • 4.4-6 – Inutilidade da inveja
  • 4.7-12 – Inutilidade de ser sozinho
  • 4.13-16 – Inutilidade de uma monarquia hereditária
  • 5.1-7 – Inutilidade do fingimento numa religião formal
  • 5.8-14 – Inutilidade do sistemas de valores materialistas
  • 5.15-20 – Inutilidade de deixar para trás, na morte, os produtos do trabalho
  • 6.1-9 – Inutilidade de futilidade de uma vida despojada
  • 6.10-12 – Inutilidade do determinismo da natureza

7.1 – 8.9 – A sabedoria prática e os seus usos

  • 7.1-10 – Provérbios moralizantes sobre vida e morte, bem e mal
  • 7.11-22 – A sabedoria e as suas aplicações
  • 7.23 – 8.1 – Observações sábias variadas
  • 8.2-9 – A sabedoria na corte do rei

8.10 – 9.18 – Um retorno ao tema

  • 8.10-9.12 – Inutilidade da compensação (novamente)
  • 9.13-18 – Inutilidade da natureza instável do homem ( novamente)

10.1 – 11.6 – Mais sobre a sabedoria e os seus usos

11.7 – 12.7 – O único valor é temer a Deus e obedecê-lo

  • 11.7-10 – O primeiro resumo das conclusões
  • 12.1-7 – O segundo resumo: a alegoria da velhice e morte

12.8-14 – Epílogo: confirmação da conclusão

  • 12.8 – Resumo das conclusões do Pregado
  • 12.9-14 – Resumo das conclusões do Pregador através de um discípulo

Fonte: Bíblia Plenitude

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