O Fogo Estranho

Levítico 10 – O livro de Levítico contém quase que inteiramente instruções sobre rituais, regulamentos e leis. Neste capítulo, porém, encontramos a narração trágica da rebelião e desobediência de dois filhos de Arão, logo depois da sua consagração como sacerdotes.

A presunção de Nadabe e Abiú é assustadora em vista das instruções categóricas que o SENHOR lhes havia dado: “…os sacerdotes, que se chegam ao SENHOR, se hão de consagrar, para que o SENHOR não os fira” (Êxodo 19:22). E, tendo dado a receita do incenso que deveria ser usado no tabernáculo, o SENHOR instruiu: “…o incenso que fareis, segundo a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o SENHOR. Quem fizer tal como este para o cheirar, será eliminado do seu povo” (Êxodo 30:37-38).

A glória, ou autoridade, de Deus é marcada por este incidente, no início da aliança da lei, assim como ela o seria mais tarde com a morte de Ananias e Safira no início da era da Igreja (Atos 5:1-11). Em ambos os casos, a morte foi a penalidade dos que desafiaram a autoridade de Deus, “porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12:29).

Isto é algo de que deveríamos nos lembrar hoje, “pois conhecendo o temor do SENHOR, persuadimos aos homens…”. (2 Coríntios 5:11), e “tende cuidado, não recuseis ao que fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram ouvir quem divinamente os advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos desviamos daquele que dos céus nos adverte” (Hebreus 12:25). Este é o grande pecado nas igrejas de hoje: seus membros, todos consagrados sacerdotes de Cristo, não estão ouvindo o que Deus diz em Sua Palavra.

À primeira vista, poderia nos parecer severa demais a sentença de morte sobre os dois filhos de Arão por causa da sua transgressão contra o SENHOR. Mas notemos que a transgressão foi porque fizeram o que lhes não ordenara. A enormidade do crime foi tal que perderam a sua vida.

Foi uma desobediência deliberada e consciente às ordens que lhes haviam sido dadas pelo SENHOR. A natureza deste crime pode ser identificada como adoração à sua própria moda: com isto eles desprezaram o cumprimento das instruções minuciosas que o SENHOR havia dado através de Moisés.

O que exatamente fizeram não é explicado, mas há três probabilidades:

  1. Eles não acenderam o incenso com as brasas do altar de bronze, resultante do fogo que saíra de diante do SENHOR (Levítico 9:24), conforme ordenado, e que nunca deveria ser apagado (Levítico 6:12-13, 16:12). Aparentemente eles já sabiam que era isto que deveria ser feito.
  2. Eles não cumpriram com o horário designado pelo SENHOR. O ritual do dia já havia sido cumprido, e parece que eles estavam querendo repetir o belo espetáculo do dia anterior. É semelhante ao que acontece hoje em dia quando muitos procuram duplicar a experiência do dia de Pentecostes, e os outros três casos mais tarde. Deus é soberano, e devemos nos submeter ao seu programa. O Espírito Santo moverá segundo a Sua vontade, e devemos ficar simplesmente disponíveis e obedientes a Ele.
  3. É provável, também, que eles passaram através do véu, para dentro do Santo dos Santos. Eles chegaram diante do SENHOR (Levítico 16:1), indo onde não deviam.

O SENHOR havia dado instruções sobre como, quando, e onde eles deveriam servi-Lo. Eles deliberadamente desobedeceram. Deus é um Deus zeloso e santo. Se queremos servi-Lo, devemos fazê-lo à Sua maneira. Obediência é melhor que sacrifício (Hebreus 10:5-10).

Deus não aceita nossa adoração à nossa maneira, não importa com que sinceridade. A alta posição destes homens não os tornou imunes ao castigo, e a rapidez com que veio foi assustadora. O fogo veio do SENHOR repentinamente para matá-los (ele não consumiu seus corpos ou suas roupas). A punição pela desobediência vem ainda hoje, e é por isso que há entre nós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem (1 Coríntios 11:30), embora nem sempre fulminante como no caso de Nadabe e Abiú, e Ananias e Safira.

Moisés repetiu a Arão as palavras do SENHOR (Êxodo 19:22), mostrando que qualquer desobediência às ordens divinas diminuía a manifestação de Sua glória, ou autoridade, entre o povo. Por isso também hoje Deus pune os Seus santos, para que o mundo saiba que Ele é um Deus santo.

A atitude de Arão foi notável: ele permaneceu em silêncio. Sem dúvida profundamente angustiado, ele ainda assim se submeteu à vontade soberana de Deus. Moisés chamou dois primos, levitas, para levarem os corpos para fora do arraial. Arão e seus dois filhos foram proibidos de externar a sua tristeza com o luto conforme era praticado entre eles.

Havia duas razões:

  1. Eles haviam sido ungidos, consagrados. Agora eles representavam o povo diante de Deus, e tinham que permanecer no recinto do tabernáculo, ativos em sua função de intermediários, para que a ira do SENHOR não viesse sobre o povo. O povo poderia lamentar o evento.
  2. Como ministros de Deus, eles não podiam mostrar tristeza por uma obra da justiça de Deus, que seria interpretada como rebeldia.

Em seguida o SENHOR falou a Arão, possivelmente pela primeira vez como sumo-sacerdote. Sua ordem a Arão foi que nem ele, nem seus filhos, bebessem vinho ou bebida forte (alcoólica) quando viessem ao tabernáculo, sob pena de morte. Esta ordem era estatuto perpétuo entre as suas gerações. Lembremos que naquele tempo não havia, ao que se saiba, refrigerantes, chá ou café!

Embora no Novo Testamento não encontremos uma proibição absoluta como esta, as bebedices, a embriaguez e os beberrões (alcoólatras) são severamente condenados (Romanos 13:13; 1 Coríntios 5:11, 6:9-10; Efésios 5:18; 1 Tessalonicenses 5:7-8). Os supervisores da igreja não devem tomar vinho, ou outras bebidas alcoólicas (1 Timóteo 3:3). Timóteo, por exemplo, só bebia água (1 Timóteo 5:23).

O uso de bebidas alcoólicas e outras drogas abafam os sentidos de forma a não se poder distinguir entre o santo e o profano, os valores morais se distorcem, e acabam em completo colapso. Ao invés dessas substâncias, todo o crente deve encher-se do Espírito para melhor estudar a Palavra de Deus, transmiti-la aos outros, fortalecer-se e dirigir sua vida (Efésios 5:18).

Moisés reiterou as instruções minuciosas sobre os sacrifícios e as porções que deveriam ser comidas pelos sacerdotes. Ele descobriu outra transgressão por parte dos sacerdotes, da qual participaram os dois filhos sobreviventes de Arão: eles não haviam comido a oferta pelo pecado no lugar santo. Foi um mal-entendido, explicado por Arão: devido à morte de dois de seus filhos, ele e os filhos restantes haviam se sentido indignos. Moisés aceitou a explicação e eles não foram punidos pois não desobedeceram de propósito.

Hoje Deus está agindo com misericórdia, concedendo tempo para arrependimento e para que todos cheguem ao conhecimento da verdade. Se não fosse assim, muitos estariam morrendo como Nadabe e Abiú, por procurarem se aproximar da presença de Deus de uma maneira imprópria, em desobediência ao seu mandado.

Devemos nos chegar a Ele segundo as condições que Ele estabeleceu. Não nos compete escrever as regras. Deus é o Salvador e só Ele pode determinar como seremos salvos. O Senhor Jesus declarou que ninguém vem ao Pai a não ser por Ele (João 14:6).

Richard David Jones | Fatos Bíblicos

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