Lugares Santos

Há várias referências na Bíblia a lugares importantes e solenes, tanto na Terra, como nos céus. Há, por exemplo, “os lugares celestiais” (Ef 1:3; 2:6) onde o crente se vê abençoado e assentado em comunhão com Deus. Há também o “lugar de tormento” em Lucas 16:28, onde os infelizes que morrem sem Cristo estão eternamente perdidos. Sem dúvida são solenes estes lugares como tantos outros na Bíblia. Mas é nesta Terra em que vivemos que se destacam três lugares como os mais solenes e significativos.

Encontramos referência a eles no Evangelho de Mateus. São eles: “Um lugar chamado Getsêmani” (26:36), “O lugar chamado Gólgota” (27:33) e “O lugar onde o Senhor jazia” (28:6). Estes três lugares estão ligados com o Senhor Jesus, e também com cada crente. Visitemos por uns momentos estes três lugares, tendo como guia o Espírito Santo, e meditemos nas importantes lições que eles contêm para nossa edificação.

Um Lugar Chamado Getsêmani

Há um lugar especial que o Senhor preparou para todo o homem na Terra – o seu lar. Infelizmente, por causa do pecado, para a maioria dos homens o lar deixou de ser um lugar de feliz comunhão com a família. Mas para o crente o lar deve ser um lugar onde o homem se alegra com “a mulher de sua mocidade” (Pv 5:18); os filhos são criados e educados “na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4), e a mulher, como mulher virtuosa, exercita um abençoado ministério de serviço prestado a Deus de tal forma que “o coração do seu marido está nela confiado…”. (Pv 31:11), e “levantam-se seus filhos, e chamam-na bem-aventurada; como também seu marido, que a louva dizendo: Muitas filhas obraram virtuosamente; mas tu a todas és superior” (Pv 31:28-29). Que abençoado lugar é este em que Deus faz com que “o solitário viva em família” (Sl 68:6)!

Quando o Senhor Jesus andou neste mundo desfrutou do convívio de um lugar assim em Betânia, na casa de Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria. Mas por mais bendita que fosse a comunhão naquele lar feliz em Betânia, sabemos que havia outro lugar onde o Senhor Jesus tinha mais prazer. Era no Monte das Oliveiras, para onde Ele se retirava com frequência e passava horas, e até noites inteiras, em oração e comunhão com Seu Pai. Se as árvores daquele lugar pudessem falar, que testemunho dariam dos momentos de santa e doce comunhão entre o Pai e o Filho!

Meu irmão, há no seu lar um lugar assim? Um lugar para onde você possa se retirar com frequência para orar, adorar, e estudar a Palavra de Deus, desfrutando de um ambiente ainda mais feliz de comunhão com Deus do que desfruta com a família?

Ali no Monte das Oliveiras, onde o Senhor desfrutava comunhão com Deus em oração, encontrava-se um lugar chamado Getsêmani. Neste lugar o Senhor não experimentou a doçura e paz que a comunhão com Deus proporciona à alma, mas pavor, agonia, angústia e tristeza até à morte. Ali Suas lágrimas misturaram-se ao Seu suor que, como grandes gotas de sangue, brotava de Seus poros e escorria até ao chão, enquanto contemplava a cruz e o cálice de amargura que a mão de Deus lhe estendia.

A tristeza que esmagava o Seu coração era tal que afetou todo o ambiente, a ponto de os discípulos que estavam com Ele, mesmo afastados, serem atingidos, pois, lemos em Lucas 22:45 que após Sua oração o Senhor achou-os “dormindo de tristeza”. A ocasião só não foi pior do que a cruz porque era apenas uma visão antecipada dela, e porque havia um anjo do céu que O confortava. Que tremendo lugar foi aquele para o Senhor! Ao contemplar a cruz, e diante da perspectiva de nela ser feito pecado por nós, o Senhor expressa-se desta maneira: “Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice”. Com estas palavras o Senhor apresenta um aspecto importante da Sua obra consumada na cruz, ou seja, o cordeiro como o “Sacrifício pelo pecado”.

Como tal, aquele que é santo e justo não podia suportar a ideia de ser “contado com os transgressores”, e “ser feito pecado”, e “levar sobre si a iniquidade de nós todos”. Tendo este aspecto em vista, compreendemos as Suas palavras quando diz: “Meu Pai, se é possível passa de Mim este cálice”. Mas havia um outro aspecto na sua obra, ou seja, o “Sacrifício de holocausto”. O Sacrifício de Holocausto era todo para Deus. Os sacerdotes não tinham parte nele a não ser como espectadores reverentes. O Sacrifício de Holocausto fala daquele que “pelo Espírito Eterno ofereceu-se imaculado a Deus” (Hb 9:14) de forma absolutamente voluntária. Desta maneira Ele podia dizer: “Todavia não se faça a Minha vontade, mas a Tua”.

Há milhares de anos o primeiro homem, Adão, experimentou as delícias e bênçãos de um lugar chamado Jardim do Éden. Ali naquele ambiente iluminado pela luz da constante presença de Deus o primeiro homem disse: “Não a Tua vontade, mas a minha”, e assim desobedeceu ao único mandamento que o Senhor lhe dera. Após milhares de anos vemos o segundo Adão, o Homem celestial, também em um jardim aqui na Terra. O ambiente era obscurecido pela noite em que se aproximava a “hora e o poder das trevas”. As cenas mostram um Homem em conversa com Deus.

Ele não está feliz como estava o primeiro Adão no Éden. Ao entrar naquele jardim Ele começou a ter pavor e angustiar-se. Seu semblante transtornado de agonia contempla o Pai, e Ele vê em Sua mão um cálice mais amargo que o mais amargoso fel. Também para Ele havia um só mandamento: o de morrer como maldito no madeiro entre os transgressores, e pelos transgressores malditos. Consumido de dor, e angústia, Ele curva-se submisso à vontade do Pai dizendo: “Todavia não se faça a Minha vontade mas a Tua”.

Amado irmão, é possível que uma vez ou outra tu encontres o lugar chamado Getsêmani no ambiente onde costumas gozar santa e doce comunhão com Deus. Talvez em profunda angústia te sintas compelido a orar para que se possível passe de ti o cálice que o Senhor te estende. Diz a Bíblia: “que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fl 2:5). Bendito serás se, como ele, disseres em tais circunstâncias: “Faça-se a tua vontade”.

O Lugar Chamado Gólgota

Atualmente, em Israel, grande número de turistas visita um lugar onde supostamente teria sido crucificado o Senhor Jesus. A maioria destas pessoas realmente nunca visitou o verdadeiro lugar onde ergueu-se a rude cruz. Dizem que a exata localização daquele lugar é desconhecida nos dias de hoje, entretanto, sabemos que qualquer pessoa pode lá chegar, tomando a estrada da Palavra de Deus, conduzida pela carruagem da fé. Todos aqueles que estão “assentados nos lugares celestiais” passaram inevitavelmente pelo lugar chamado Gólgota, e ali se detiveram, pasmos, reverentes, e agradecidos ante a visão do Santo Sofredor.

O lugar situava-se fora da cidade de Jerusalém. Dentro da cidade estava o Templo de arquitetura magnífica, com seus sacerdotes bem paramentados. Estava ali a expressão de toda a devoção e cerimonial religioso de que o homem natural se orgulhava. A política de Roma com toda a sua assistência social e humanitária tinha também a sua manifestação dentro da cidade. Mas foi do lado de fora, aparte de tudo isso, que se deu a obra da redenção. Em Marcos e Lucas lemos que “o levaram” para fora, para ser crucificado. Assim como no Seu nascimento, também na Sua morte, “não havia lugar para Ele”.

Mas também lemos no Evangelho de João que “Ele saiu”. “E levando Ele às costas a Sua cruz saiu para o lugar chamado a caveira” (19:17). Vemos assim como de um lado o mundo religioso rejeitou o Salvador, e de outro lado o Senhor mesmo rejeitou o sistema religioso, político e social do mundo. No que toca à salvação da alma só há um lugar para onde o pecador deve se dirigir: O lugar chamado Gólgota. Todos aqueles que estão ligados a Cristo não têm aceitação no mundo, e necessariamente devem apartar-se dele para irem ao encontro do rejeitado. “Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério” (Hb 13:13).

Nos dias do Senhor Jesus o lugar chamado Gólgota não seria o escolhido para um piquenique. O lugar trazia à lembrança morte e horror. Os mais infames criminosos eram para lá levados para serem mortos. Tudo ali, desde o próprio nome (“caveira”) falava e cheirava a morte. Mas quão importante foi este lugar nos propósitos eternos do Eterno Deus. Num lugar de bênçãos e beleza sem igual, em Gênesis capítulo 3, o homem caiu em miséria espiritual. A justiça divina foi afrontada, e a santidade de Deus ofendida. Mas foi no “lugar da caveira”, lugar de maldição, que o homem foi restaurado, a justiça satisfeita, e a santidade de Deus exaltada. Num lugar onde tudo falava de vida, o homem entrou na morte. Anos mais tarde, num lugar onde tudo falava de morte, a vida eterna se torna possível. Quando o Príncipe da Vida “derramou a sua alma na morte”, o homem pecador “morto em ofensas e pecados” pôde viver para a justiça. Que bendito lugar!

A propósito de lugares na Bíblia, lemos de alguns belíssimos no livro do Apocalipse. Há o lugar onde está a Nova Jerusalém, o lugar do rio e a árvore da vida, o lugar do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 21 e 22). Mas o homem jamais chegará a estes lugares sem passar pelo “lugar chamado Gólgota”. Foi este lúgubre e tenebroso lugar que tornou possível a mais excelsa glória dos “lugares celestiais”. Meu irmão, minha irmã, achega-te a este lugar inóspito e com cheiro de morte. Curva-te à sombra da cruz e, neste sítio sagrado, manchado pelo sangue do imaculado Cordeiro de Deus, curva reverentemente o coração, e adora Aquele que foi morto mas vive para sempre.

O Lugar Onde o Senhor Jazia

Estava ainda escuro quando um grupo de mulheres caminhava rapidamente pelas ruas de Jerusalém em direção ao portão da cidade. Levavam com elas alguns vasos com especiarias que haviam preparado logo após terem retornado do lugar chamado Gólgota dois dias atrás. Dirigiam-se a um horto, no qual havia um sepulcro novo onde colocaram o corpo do seu Senhor e Mestre. O propósito delas era prestar um tributo ao Senhor que haviam amado, e seguido, e que agora achava-se – pensavam elas – no sepulcro. À frente delas caminhava uma que parecia ser a que liderava toda aquela iniciativa. Em todos os Evangelhos ela é mencionada sempre em primeiro lugar entre aquele grupo de mulheres que seguiu os últimos passos do Senhor Jesus desde o seu injusto julgamento.

Maria Madalena é o seu nome. O que pensavam elas naquele momento? A pergunta que inquietava a todas era: “Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?” (Mc 16:3).

Maria Madalena tinha muito que pensar sobre os últimos acontecimentos. Conhecera o Senhor numa circunstância singular. Possuída por sete demônios, experimentou a autoridade e o poder do Senhor Jesus para libertá-la. Seria eternamente grata e devotada a Ele por isso. Talvez ela também compartilhava do pensamento dos dois discípulos que iam na estrada de Emaús a respeito do Senhor: “Varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo”. Certamente ela também, como eles, esperava que “fosse Ele o que remisse Israel” (Lc 24:21). Mas a perplexidade diante dos últimos acontecimentos não diminuiu o seu amor, devoção, e gratidão para com seu Senhor; em seu coração a lembrança d’Ele e o amor por Ele estavam tão vivos como ela o julgava morto. Ela não sabia ainda, mas, uma vez mais ela se surpreenderia com o seu Senhor.

O sepulcro onde puseram o Senhor era um sepulcro novo que ainda não havia sido usado. Tudo isto estava bem de acordo com as Escrituras, e bem adequado com aquele que era absoluta e admiravelmente puro. Diz a Escritura: “Porquanto nunca fez injustiça” (Is 53:9). Alguém falou a respeito dizendo: “Aquele que veio ao mundo através de um ventre virginal puro, e santo, repousou pela morte em um túmulo igualmente puro”.

O túmulo foi fechado com uma grande e pesada pedra. Um selo romano e uma guarnição de soldados estava ali para desfazer o temor dos líderes judaicos de que o corpo do Senhor fosse roubado pelos seus discípulos, e se propagasse uma suposta ressurreição. Mas o que eles não sabiam era que os discípulos, com exceção de algumas mulheres, não estavam interessados no corpo morto de seu Mestre. E o que eles tampouco poderiam imaginar, era que o Deus Vivo e Verdadeiro estava interessado em fazer ressurgir da morte Aquele Jesus, tornando-o “as primícias dos que dormem” (I Cor 15:20), e o “Primogênito dentre os mortos” (Cl 1:18).

Foi na quietude silenciosa da madrugada do primeiro dia da semana que aconteceu o inusitado. A descida de um único anjo do céu, acompanhado de um grande terremoto, fez com que aqueles soldados, homens treinados para serem destemidos, ficassem assombrados e como mortos. O anjo remove a grande pedra e assenta-se sobre ela, diante de um túmulo vazio. Cristo vive! Brados de aleluias ecoam nos céus diante daquele de quem se havia dito “Não permitirás que o Teu Santo veja a corrupção” (Sl 16:10). No mesmo momento, nraram. Logo após ressuscitar dentre os mortos, os primeiros sacrifícios de louvor e adoração que o Senhor recebeu foram da parte destas simples e devotadas mulheres. Nem mesmo os serafins e querubins nos céus tiveram o privilégio que elas tiveram. Ainda hoje, a contemplação do túmulo vazio e do Cristo vivo produz louvor e adoração no coração do crente. Nós que lá no lugar chamado Getsêmani estávamos no coração aflito do Santo Sofredor, morremos com Ele no lugar chamado Gólgota, e descemos com Ele ao lugar onde o Senhor jazia no sepulcro, definitivamente mortos para o mundo e para o pecado. Mas ao erguer-se vitoriosamente do sepulcro, Ele não o fez sozinho pois diz a Palavra de Deus: “Sepultados com Ele… Nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cl 2:12).

Bendito seja Deus! Podemos exclamar em triunfo: “Tragada foi a morte na vitória” (I Cor 15:54).

Contemplamos o último inimigo aniquilado. “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor 15:55, 57).

Juarez Rodrigues – Cachoeirinha – RS.

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