Exemplos de Fé Nas Promessas Divinas

Nos primeiros capítulos de Lucas há uma ênfase notável aos cânticos de gratidão a Deus. Encontram-se ali o “Magnificat” (1:46-55), o “Benedictus” (1:67-79), o “Gloria in Excelsis” (2:14) e o “Nunc Dimitis” (2:28-32). Estes quatro belos cânticos declaram a fidelidade de Deus no cumprimento da Sua promessa e nós vamos tratar de dois deles, nos quais os seus personagens, Zacarias e Simeão, em expressões de alto louvor e reverente adoração, exaltam a Deus por ter enviado o Seu Filho ao mundo, enchendo de alegria os corações do remanescente piedoso que, em ardente expectativa, desejava ver a realização daquele maravilhoso evento.

I. Zacarias e a Promessa – 1: 6- 21; 67-79

Notemos, primeiramente, o caráter de Zacarias. Juntamente com sua mulher ele era “justo diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente os preceitos e mandamentos do Senhor” (1:6). Era, também, um homem de oração; levava os seus problemas e dificuldades à presença do Senhor (1:13). Era, portanto, um homem que vivia em comunhão com Deus. Não é de admirar, pois, que o Senhor lhe revelasse a Sua vontade, dando-lhe “uma visão no santuário” (21), e que pudesse profetizar “cheio do Espírito Santo” (67).

Em nossos dias também, à medida que obedecemos ao Senhor, de acordo com a luz que temos, e nos mantemos em comunhão através da oração constante, fervorosa e exame atento da Sua Palavra, é que recebemos mais luz, mais conhecimento da Sua vontade e mais poder do Espírito Santo para andarmos nela.

Notemos, em segundo lugar, o motivo de sua gratidão a Deus. Zacarias acabava de receber uma grande bênção: Deus lhe dera o filho pelo qual, juntamente com sua mulher, muito havia orado (13). Nada mais justo e natural, portanto, do que agradecer ao Criador por isso. Quantos exemplos temos, na Bíblia, de pessoas que extravasaram perante Deus os seus sentimentos de gratidão pelo que d’Ele receberam!

O júbilo de Zacarias transcende os limites de seu interesse pessoal. Seu regozijo maior não é por ter alcançado a bênção de ser pai de um filho, e sim, pelo que Deus faria através d’Aquele de Quem ele seria o precursor. Ele tinha em vista antes o espiritual do que o temporal. O motivo da sua gratidão não era o afastamento do opróbrio de seu lar com o nascimento do menino, e sim, o papel importante que este, pela graça de Deus, havia de desempenhar como “profeta do Altíssimo” no cumprimento da promessa messiânica.

Será esse o nosso critério de apreciação das bênçãos do Senhor? Ao nos recordarmos das incontáveis bênçãos do Senhor, podemos, além e acima delas, regozijar-nos no Senhor mesmo? Afinal Ele é a Fonte perene de todo regozijo verdadeiro (Fp 4.4). Podemos ver algo de espiritual mesmo nas bênçãos temporais que recebemos?

Notemos, em terceiro lugar, o seu conhecimento e compreensão da palavra profética. Ele reconhecia nos acontecimentos de agora, o cumprimento do que Deus “prometera desde a antiguidade por boca dos seus santos profetas”(70). Ele exalta, portanto, a fidelidade de Deus no cumprimento de Suas promessas. Se ele conhecia as promessas proféticas é porque ele era familiarizado com as Escrituras do seu tempo.

Ao mesmo tempo em que exalta a Deus pela Sua fidelidade no cumprimento exato da promessa empenhada, Zacarias demonstra a sua compreensão da palavra profética ao reconhecer nos acontecimentos de então a visitação de Deus em graça para redimir, salvar, libertar dos inimigos, capacitar para a adoração, alumiar e guiar no caminho da paz.

É claro que como judeu a sua ênfase é muito maior sobre o que isto representa para o povo de Israel. Todavia, as bênçãos por ele mencionadas são aquelas que até hoje são oferecidas pelo Evangelho a todos quantos recebem a Jesus Cristo e confessam-No como Senhor e Salvador. Com muito menos informações do que nós, Zacarias tinha muito maior “visão do invisivel” do que muitos crentes hoje em dia.

II. Simeão e a Promessa – 2:25-32

Convém notar que, como Zacarias, Simeão possuía um nobre e elevado caráter. Diz o nosso trecho que ele era “homem justo e piedoso” (25). Isto significa que era reto em suas relações com os homens e reverente e dedicado em suas relações com Deus. Ele não era impecável, mas era irrepreensível perante o seu próximo, não podendo ninguém apontar contra ele o seu dedo acusador. Por outro lado era ele cuidadoso em reconhecer e reverenciar o seu Deus e empenhar-se em obedecer às Suas exigências. Numa época de grande decadência espiritual ele estava entre os poucos que buscavam a Deus com coração sincero, desejando ardentemente andar nos Seus caminhos.

É digno de nota que Simeão era um homem de fé. Diz o nosso trecho que ele “esperava a consolação de Israel” (25). Isto significa que ele confiava na promessa divina concernente à vinda do Messias e aguardava pacientemente a sua realização. Ele, assim como Zacarias, pode ser encarado como sucessor daqueles notáveis vultos do Velho Testamento mencionados em Hebreus 11, os quais “obtiveram bom testemunho por sua fé”.

Notemos, ainda, que ele vivia sob o controle do Espírito Santo. Diz o nosso trecho que “o Espírito Santo estava sobre ele” (25). E o Espírito do Senhor em Simeão não era apenas Agente de santificação, mas também de revelação. Primeiro, revelou-lhe que ele não morreria antes de ver o Ungido do Senhor; depois, conduziu-o ao templo, ao encontro do recém-chegado Messias. Era o prêmio da fé, da fidelidade e da obediência, que Deus nunca deixa sem recompensa. Quem procura honrar o Senhor, será por Ele honrado. Assim prometeu Deus no passado (I Sm 2:30) e assim o confirmou nosso Salvador (Jo 12:26).

Notemos, finalmente, os belos resultados da fé e piedade de Simeão:

  • Alegria santa – Que resultou em louvor. Ele tomou o menino nos braços e louvou a Deus. Felizes aqueles que têm no Senhor Jesus o ponto focal de sua alegria.
  • Confiança no Senhor – Que resultou em uma visão segura do porvir e consequente desapego à vida presente e seus interesses. O supremo anelo daquele santo homem era “ver a salvação de Deus”. Tendo alcançado essa graça sentia-se realizado e disposto a partir em paz. Sua vida de fé permitia-lhe antever um porvir feliz. O fiel servo de Deus nunca teme a morte, pelo contrário, reconhece que ela é vantajosa, pois morrer significa partir para estar com Cristo (Fp 1:21-23).
  • Discernimento dos propósitos de Deus – Ao tomar aquele infante em seus braços ele viu nele a salvação do Senhor, e não, um mero menino. Reconheceu, também que tal salvação não era para o povo de Israel somente, mas para todos os povos. Ele afirma ser o recém-nascido menino a “luz para revelação dos gentios”, discernindo em seu nascimento o cumprimento da profecia de Isaías 49. Assim soube ele discernir a universalidade da graça de Deus. Mas ele soube discernir a Pessoa de Cristo também como “a glória de Israel”. De fato, se há qualquer esperança de glória para aquela nação, esta se encontra em Cristo, pois Ele é o grande Herdeiro do trono de Davi (Is 9:7), o Qual, como Rei dos judeus, restaurará perante todos os povos da terra a glória perdida de Israel.

As Preciosas Lições para os Cristãos

Zacarias e Simeão são para nós exemplos de como Deus revela aos homens a Si mesmo, e a Sua vontade quando estes confiam inteiramente n’Ele e nas Suas promessas. Estes extraordinários homens de Deus, pelo seu empenho sincero em viver em comunhão com Ele, foram dominados pelo Espírito Santo e por Ele guiados e iluminados nas verdades divinas. Acontece o mesmo conosco? E se não, por quê?

Aprendemos que as promessas de Deus. fielmente cumpridas, devem estimular a nossa confiança no cumprimento das profecias futuras e encher os nossos corações de júbilo e louvor. Que tal aplicarmos Colossenses 3:16 às nossas vidas?

Aprendemos que Cristo é a única resposta para os anseios do coração humano. Ele é luz, paz, salvação, esperança e glória para todos quantos O recebem. O cristão perde muitas vezes o prazer que estas bênçãos trazem porque ficam embaraçados com os seus interesses mundanos e não vivem em plena comunhão com Ele.

Aprendemos, finalmente, que Cristo é o cumprimento das promessas do Velho Testamento. Os judeus espirituais aguardaram durante séculos o cumprimento das promessas de Deus e o nascimento do Senhor Jesus Cristo em Belém veio encher de júbilo aqueles corações piedosos.

Tudo quanto de bom Deus tem a oferecer aos homens está em Cristo. Por isso, com a luz que hoje temos da Palavra de Deus, podemos compreender que Ele é hoje o cumprimento de todas as promessas de Deus para nós, as quais tem n’Ele o sim e o amém (II Cor 1:20).

O verdadeiro crente vive pela fé na Pessoa, no poder e nas promessas do Senhor. Zacarias e Simeão esperavam o Messias que havia de vir. Os crentes verdadeiros esperam o Salvador que veio, consumou a obra da redenção e voltou para o céu deixando a promessa de voltar a fim de levar para a glória os Seus redimidos. Durante a nossa peregrinação aqui contamos com a Sua promessa de estar conosco sempre, de nunca nos deixar nem nos desamparar (Mt 28:20 / Hb 13:5-6).

Podemos sofrer aflições e perseguições, mas vivemos sustentados pela gloriosa perspectiva da Sua volta, aguardamos “a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus (Tt 2:13), quando Ele “transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória” (Fp 3:21) e, então, “seremos semelhantes a ele, porque havemos de vê-lo como ele é” (I Jo 3:2).

A comprovada fidelidade do Senhor no passado, como no presente, estimula-nos a crer no cumprimento desta promessa futura, levando-nos a afirmar alegres e convictos a nossa certeza de que “ainda dentro de pouco tempo aquele que vem virá, e não tardará” (Hb 10:37). Glória a Deus pela Sua infinita fidelidade!

Sigamos o exemplo de Zacarias e Simeão: confiemos nas promessas divinas a fim de vivermos vidas de santa alegria. Tal atitude resultará em louvor, bem-aventurada confiança no Senhor, consequente desapego nos interesses terrenos, a visão da glória que nos espera e, por fim, sábio discernimento dos propósitos divinos que nos estimulará a viver à luz daquela maravilhosa perspectiva.

Luiz Soares – Nasceu na cidade de São Paulo, no dia 30 de novembro de 1930, filho de Thomé Soares e Maria Belmina, nasceu num lar cristão. Converteu-se ao Senhor Jesus aos 17 anos de idade, e foi recebido à comunhão pela igreja no Bosque da Saúde. Foi professor da Escola Dominical por um bom tempo, mais tarde, foi reconhecido pela igreja local ao presbitério. Casou-se com Hacy Senghi Soares em 10/03/1962, e desta união, nasceram quatro filhos.

Conciliava o serviço da igreja local com seu trabalho secular, e foi numa viagem, a trabalho, sofreu um grave acidente de carro na cidade de Pouso Alegre, que o deixou internado no hospital daquela cidade, sendo posteriormente transferido para São Paulo. Seu companheiro de viagem não resistiu e veio a falecer. Quando estava ferido, ainda no acostamento esperando o socorro, vendo o carro em chamas, orou: “Tudo o que eu fiz nesta semana de serviço virou cinzas num minuto. Se o Senhor quiser usar a minha vida até o resto dos meus dias, ainda que seja para a salvação de apenas uma alma de um fogo muito pior que esse aí, estou pronto para Te obedecer”.

Por volta de 1970, foi encaminhado à obra missionária pela Igreja do Bosque da Saúde, mudou-se para Campinas-SP, ajudando o trabalho na igreja do Jardim Santana e no ano seguinte, foi ajudar o trabalho em Tupi Paulista onde permaneceu por nove anos. Lá, manteve um programa de rádio.

Por volta de 1979, a convite do irmão Richard Dawson Jones, mudou-se para Piracicaba-SP, onde permaneceu até o final de sua vida aqui.

Foi redator da revista Vigiai e Orai, e teve grande participação na organização do hinário Hinos e Cânticos, a partir da 16º edição, contribuindo na tradução, composição musical e na autoria de muitas letras e músicas. Foi ainda autor do livreto “Estudos na segunda carta a Timóteo”, lançado pelas Edições Cristãs.

Dedicou-se ainda em fazer gravações de alguns hinos do hinário “Hinos e Cânticos” com o objetivo de ensinar a melodia correta dos mesmos, sendo que muitas cópias estão espalhadas entre os irmãos.

Foi ensinador das Escrituras com muito zelo, mantendo-se fiel ao Salvador até o final de sua vida. O Senhor o chamou em 3 de março de 2003.

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