Estudar Com Propósito e Prazer

“Era tarde, e a única luz que brilhava na pequena casa estava na sala de jantar; o marido cristão, debruçado sobre sua Bíblia e livros, estava na ponta da longa mesa. Frequentemente, ele era visto nessa mesma postura, pois, como o salmista, ele podia dizer: “Como amo a tua lei; é a minha meditação o dia todo.”

Em outra parte da mesma cidade, em uma biblioteca bem equipada, estava sentado outro estudante; ele também lia a Bíblia, mas, infelizmente, a submetia a uma crítica textual. Ele também passava grande parte de seu tempo lendo filosofias e preparando palestras sobre promoção social. Teologicamente, ele era muito moderno em seus pontos de vista.

Esses dois homens ilustram o homem espiritual, que tudo discerne, e o homem natural, que não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura (1Cor 2:14-15).

O estudante da Bíblia, se quiser entender as “Coisas do Espírito de Deus”, deve ser um cristão genuíno, nascido de Deus e ungido por Seu Espírito.

Por meio da transmissão da vida divina, a alma se torna participante da natureza divina; portanto, é necessário que essa natureza seja mantida e que hábitos adequados sejam desenvolvidos, o que resultará na construção de um forte caráter espiritual. Deve-se dar atenção rigorosa ao hábito diário de oração e leitura da Bíblia.

Para que o desejo de estudar a Bíblia mais intensamente se aprofunde na alma e para que sejam desenvolvidos hábitos úteis para isso, discutiremos alguns propósitos, qualidades, condições, auxílios e métodos que conduzem a esse objetivo. Vamos começar com os propósitos.

Naturalmente, muitos motivos ocorrerão à mente por que devemos estudar cuidadosamente a Bíblia; por exemplo: ela é de grande valor histórico, descreve de forma breve, mas majestosa, a criação em todos os aspectos; traça a descendência do homem desde Adão e a ascensão e queda da nação de Israel. Além disso, ele tem valor no campo da literatura, sendo o grande clássico em todos os idiomas. No que diz respeito à jurisprudência, a Bíblia também pode ser estudada, pois forneceu o alicerce sobre o qual repousa a maioria de nossas leis morais e nos revela o significado de justiça. Nessa discussão sobre os propósitos do estudo das Escrituras Sagradas, devemos nos tornar mais pessoais e considerar os efeitos do estudo da Bíblia sobre nós como indivíduos. Espera-se que as sugestões a seguir estimulem um esforço maior nesse sentido. Devemos estudar a Bíblia para:

REVIGORAMENTO ESPIRITUAL: O apóstolo Paulo, durante sua última prisão, sentiu-se solitário, pois escreveu a Timóteo: “Tu sabes que todos os asiáticos se desviaram de mim” (2Tm 1:15). Consequentemente, ele ansiava por companhia, por isso disse: “Procura vir ter comigo em breve” (2Tm 4:9). Havia também outras coisas de que ele precisava naquela prisão romana; portanto, ele acrescenta, e podemos parafrasear seu significado: “A capa que deixei em Trôade com Carpo, quando vieres, traze-a contigo”, pois preciso de algum conforto físico e calor neste lugar úmido. “E os livros”, sim, aqueles preciosos livros, pois preciso de uma certa dose de diversão mental e relaxamento. “Mas especialmente os pergaminhos”, aquelas epístolas inspiradas, acima de tudo tragam-nas, pois busco mais do que qualquer outra coisa o verdadeiro refrigério espiritual. Conheço seu conteúdo, mas a própria leitura delas é como água fria para uma garganta seca, e elas tornam a presença do Senhor tão real para mim.

“Tragam os livros, mas principalmente os pergaminhos”.

Quando Hilquias encontrou o livro da lei do Senhor, entregou-o a Safã, o escriba, para que o lesse diante do rei Josias, e a impressão que causou no rei foi tal que, arrependido, rasgou suas vestes. Quando Jeremias ouviu a notícia, exclamou: “Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e a tua palavra foi para mim o gozo e a alegria do meu coração” (Jr 15:16). Elas refrescaram a alma do profeta que chorava.

O APROFUNDAMENTO DE NOSSA CONVIVÊNCIA COM O SENHOR: Que imagens preciosas de Cristo nos são reveladas na Bíblia. Cristo está constantemente se mostrando por meio da rede de trabalho da Sagrada Escritura. Ele se manifesta nos tipos; Ele se torna real nas histórias; Ele se prenuncia nas profecias, e entre todos os personagens da Palavra de Deus, Ele é preeminente. Para conhecer melhor nosso bendito Salvador, devemos não apenas ler a Bíblia, mas estudá-la, pois nela o Cristo de Deus é revelado.

Lemos a respeito da maravilha de nossa salvação: “Os anjos desejam examiná-la” (1Pe 1:12). Assim como os discípulos, perplexos com o mistério da ressurreição, abaixaram-se e olharam para o sepulcro, os anjos também tentaram entender a maravilha dos propósitos de Deus na redenção. Que exemplo eles nos dão. Devemos pesquisar diligentemente a palavra de Deus para aprender mais sobre as bênçãos que nos são concedidas por meio da morte e da ressurreição de nosso Senhor.

Um dos meios de desenvolver a personalidade é identificar-se com uma pessoa superior. O Novo Testamento enfatiza a necessidade de o cristão se identificar com Cristo, não apenas em Sua morte, mas também em Sua vida. “Ele nos deixou o exemplo para que sigamos Seus passos.” Para fazer isso, precisamos conhecer os passos do Mestre e, para conhecê-los, precisamos estudar a Bíblia.

A OBTENÇÃO DA VONTADE DE DEUS: Deus tem um caminho muito definido de moralidade para o crente individual, um caminho de separação do mal e de devoção ao Senhor. Ele, da mesma forma, tem um plano para Sua igreja em sua peregrinação e testemunho corporativo. Ele também fala desse pequeno grupo, a igreja local, enquanto ela tenta, em uma forma de miniatura, testemunhar de nosso Senhor rejeitado. Em todo o Novo Testamento, Deus tornou conhecida Sua vontade quanto às funções internas da igreja e quanto ao seu testemunho externo. Qualquer abordagem ao estudo da Bíblia seria muito incompleta se conhecer a vontade de Deus em todas as coisas presentes e futuras, para o cristão e para a igreja, não fosse um objetivo importante.

A AQUISIÇÃO DE UM CONHECIMENTO DA BÍBLIA: “O conhecimento incha”, adverte o apóstolo Paulo. Tenhamos sempre em mente essas palavras de cautela. O conhecimento bíblico pode ser usado para exibir orgulho pessoal; no entanto, para estar totalmente equipado e pronto para toda boa obra, o cristão deve conhecer a Bíblia. Ele deve saber onde encontrar o evangelho em sua abençoada simplicidade, a fim de apontar as almas para Cristo; deve conhecer seus ensinamentos relativos à igreja, a fim de esclarecer sua própria posição eclesiástica; deve conhecer seus ensinamentos sobre profecia, a fim de dar uma razão da esperança viva da igreja. O cristão tem a obrigação para com o Senhor, para consigo mesmo, para com a igreja e para com o mundo, de adquirir um conhecimento prático das Escrituras Sagradas.

Assim como é essencial que, para ser um estudante da Bíblia, seja necessário ser um cristão, também é essencial que, para ser um cristão, seja necessário ser, em algum grau, um estudante da Bíblia.

James Gunn (1900 – 1982) — “…nosso amado irmão, servo fiel e companheiro de escravidão no Senhor.” (Cl 4:7) — Depois de mais de 60 anos de serviço fiel e dedicado em tempo integral ao seu amado Senhor, o Sr. James Gunn foi chamado para estar “com Cristo” na Bethany Lodge, em Unionville, Ontário (onde esteve por apenas um ou dois dias) em 27 de novembro de 1982. Na tarde do dia 30 de novembro de 1982, entre quatrocentas e quinhentas pessoas se reuniram para o culto fúnebre na Don Valley Bible Chapel, em Toronto, que havia sido a casa de reunião do Sr. Gunn nos últimos anos de sua vida.

“Food for the Flock”, janeiro de 1955.

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