Ainda Sou do Tempo…

Ainda sou do tempo em que ser crente era motivo de criticas e perseguições. Nós não éramos muitos, e geralmente éramos considerados ignorantes, analfabetos, massa de manobra ou gente de segunda categoria. Os colegas da escola marginalizavam. Os patrões zombavam de nós. A sociedade criticava um povo que cria num Deus moral, ético, decente, que fazia de Seus seguidores pessoas diferentes, amorosas, verdadeiras e puras.

Não era fácil. Mas nós sobrevivemos e vencemos. Sinto falta daquele tempo de luz em que denunciávamos as trevas onde os nossos amigos viviam. E, por causa dessa luz, muitos incrédulos foram conduzidos ao arrependimento e à salvação.

Mas hoje é diferente…

Ainda sou do tempo em que os crentes não tinham imagens em casa, nem adereços nos seus corpos. Nós não tatuávamos os nossos corpos e nem colocávamos “piercings” na pele. Criamos que os nossos corpos eram sacrifícios ao Senhor, e que não lícito maculá-los com os sinais de um mundo decadente, um deus mundano e uma cultura corrompida. Dizíamos que tatuar o corpo era pecado.

Mas hoje é diferente…

Ainda sou do tempo em que pornografia era pecado. Quando nos convertíamos, convertíamos também os nossos olhos, e abandonávamos as revistas pornográficas, os cinemas de prostituição e os teatros corrompidos. Os que eram adúlteros arrependiam-se e pagavam o preço do que fizeram, e começavam vida nova. Nós, os jovens, deixávamos os namoros e os relacionamentos orientados pelos filmes mundanos, e primávamos por ser como José do Egito, que foi puro, ou o apóstolo Paulo, que foi decente.

Mas hoje é diferente…

Ainda sou do tempo em que nos vestíamos adequadamente para o culto. Sabíamos que íamos estar num lugar onde Jesus disse estar ali e por isso temíamos pecar pela falta de “respeito e reverencia”. Aliás, além do nosso testemunho moral, nós nos identificávamos pelas roupas. Trajávamos socialmente, com o melhor que tínhamos, dentro de nossas possibilidades, porque críamos que, se íamos prestar um culto a Deus, a ocasião nos exigia o melhor, e buscávamos dar o melhor para Deus. Mesmo pobres, tínhamos o melhor para Deus.

Mas hoje é diferente…

Ainda sou do tempo em que nossos hinos falavam de Cristo e da salvação. Cantávamos muito, e nossas músicas não eram tão complexas como as de hoje. Mas todos acabávamos por decorá-las. Suas mensagens eram simples e evangelísticas: “foi na cruz, foi na cruz”, “andam procurando a razão de viver”; “Porque Ele vive, posso crer no amanhã”, “Feliz serás, jamais verás tua vida em pranto se findar”, “O Senhor da ceifa está chamando”; “Jesus, Senhor, me achego a ti”, “Santo Espírito, enche a minha vida”, “Foi Cristo quem me salvou, quebrou as cadeias e me libertou”, etc. Não copiávamos os “hits” estrangeiros, ou as danças mundanas, mas buscávamos algo clássico, alegre, porém, solene.

Mas hoje é diferente…

Ainda sou do tempo em que as igrejas tinham personalidade. Sabíamos o que os outros ensinavam de errado e combatíamos o erro. Nós tínhamos os melhores solistas grupos de louvor. Não havia melhor ao redor de nós. Os descrentes nos admiravam pelo nosso zelo e tempo que dávamos ao Senhor.

Hoje tudo é diferente…

E eu não sou velho! Isso tudo não tem 27 anos ainda! Na década de 80 ser crente era ser assim! Meu Deus, como o mundo mudou! Como a chamada Igreja evangélica se deteriorou! Hoje eu sinto vergonha de me associar a alguns evangélicos!

Hoje é moda ser crente, ou melhor, “gospel”. Você vende bilhetes para o cinema, mas é crente! Você vende tabaco no quiosque mas é crente! Você é ladrão, mas é crente! Você é homossexual assumido, mas é crente! Você tem tempo para ver a novela e não pode ir á reunião de oração, mas é crente! Você compra Cd’s e vídeos dos “ídolos” do mundo e não tem para contribuir para a Obra de Deus, mas é crente! Não há diferença entre o santo e o profano, o lícito e o proibido, o justo e o injusto. Qualquer coisa serve.

Hoje ir á igreja é como ir ao mercado ou às barracas de feira e de artesanato: Não há mais cuidado no trajo cultuante, Rapazes vão calções (e, pasmem), até com camisa até ás pernas. Pregadores da Palavra fazem o mesmo e até os óculos escuros depositam na cabeça! Meninas usam suas minissaias e camisolas curtas a mostrar o umbigo. Não demorará a mostrar outras coisas? Não se vestem para uma cerimónia a Deus.

Hoje as músicas pouco falam de Cristo. Somos bitolados por um amontoado de “glórias”, “aleluias”, “no trono”, “te exaltamos”, “o teu poder”, etc. E Jesus? Ah, quase nunca o mencionam, e, quando o fazem, não apresentam qualquer noção do que Ele é ou representa no louvor.

O que nos falta ainda? Hoje temos bíblias de estudo, do pentescostal, do pastor, da vida nova, para mulheres, para homens, para crianças, para jovens, para idosos, só falta inventar a Bíblia gay, a Bíblia erótica, a Bíblia do ladrão, a Bíblia do desviado. Meu Deus, o que será daqui há alguns anos?

É claro que há exceções! E eu bendigo a Deus porque tenho lutado para ser uma dessas exceções. Mas eu não podia deixar de denunciar essa confusão, esse frenesim maligno, esse fogo estranho no altar de Deus! Que Deus tenha piedade de nós.

Wagner A. de Araújo

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