A Páscoa dos Judeus

Como é que aconteceu? Como é que a Páscoa do Senhor (Ex 12:11) tornou-se a Páscoa dos judeus? A Páscoa foi uma das sete festas descritas em Levíticos 23. Foram chamadas as festas de Jeová e eram caracterizadas como sendo “ao Senhor”. As sete festas foram a festa da Páscoa, de pães asmos, das primícias, de Pentecostes, das trombetas, o dia da expiação e dos tabernáculos.

John Heading escreve:

“As quatro primeiras eram festas da primavera, enquanto as últimas três eram festas do outono. Eram ordenações divinas, quando os homens tinham de encontrar com Deus no lugar que Ele escolheria. As sete festas dividiam-se em três grupos bem definidos:

  • Grupo 1: abrange as três primeiras, acontecendo dentro de uma semana;
  • Grupo 2: consiste somente de Pentecostes; acontecendo 50 dias depois da Páscoa;
  • Grupo 3: abrange as últimas três festas, ocorrendo no sétimo mês. Eram proféticas em caráter, necessitando do Novo Testamento para revelarem os seus sentidos espirituais.

As três primeiras falam do sacrifício e ressurreição de Cristo, com implicações morais para o povo do Senhor. A quarta festa fala de Pentecostes para a igreja e a época subsequente da igreja. As últimas três falam da restauração de Israel no futuro”.

Mas chegando o tempo do ministério do nosso Senhor, as festas tinham se deteriorado e deixaram de ser “ao Senhor” . Novamente perguntamos: como isso poderia acontecer? Como é que a nação à qual “primeiramente as palavras de Deus foram confiadas” (Rm 3:2) ou “dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto; e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne …”. (Rm 9:4-5) poderia extraviar-se tanto? Ao ler a história de Israel é evidente que havia um afastamento da obediência à Palavra de Deus. Eles começaram a comprometer-se com o mundo ao redor deles e queriam ser iguais a eles. A idolatria entrou na sua adoração e desprezaram os rogos dos mensageiros apontados por Deus. Mesmo o castigo dos julgamentos de Deus e o seu exílio para Babilônia não os curaram completamente do seu mundanismo. O Senhor foi excluído e a Páscoa do Senhor tornou-se a Páscoa dos judeus.

Mas uma situação ainda mais surpreendente é vista na igreja. Nós também celebramos uma festa. Paulo a chama “A ceia do Senhor” (1 Cor 11:20). Mas ali Paulo adverte os crentes de que, de fato, não estavam celebrando a Ceia do Senhor como foi intencionada pelo Senhor. “Quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia, e assim um tem fome e outro embriaga-se” (1 Cor 11:20-21). A Ceia do Senhor tinha perdido a sua significância espiritual. Tinha se deteriorado em algo que focalizava em si próprio – “a sua própria ceia” excluiu o Senhor. Tornou-se “a ceia dos coríntios” em vez de a “Ceia do Senhor”.

Há um quadro triste em Apocalipse 3 onde vemos a condição estarrecedora na igreja de Laodicéia. Ali o Senhor está em pé do lado de fora, pedindo entrada e oferecendo comunhão a todos que estão prontos a recebê-Lo. A igreja estava cega quanto ao seu baixo estado espiritual. Eles continuavam na sua riqueza e obras e fracassaram em ver que em todas as suas atividades tinham posto de lado o Senhor. Tinham sido abençoados, como Israel, ao receber a “palavra de Deus”. Mas até aquela luz espiritual foi negligenciada. Qual é a nossa condição hoje? Somos igualmente culpados como Corinto e Laodicéia?

Será que a vida da igreja ou a ceia do Senhor é caracterizada por ser ocupada com interesses próprios e as suas bênçãos? Será que a nossa igreja tem algo para o Senhor? Ou é somente acerca de nós, e o nosso ministério. e os nossos programas, e a nossa visão? Será que nós, será que eu, sabemos o que é “com Ele cearei, e Ele comigo”? (Ap 3:20).

Felizmente isso pode ser a verdade se quisermos que seja assim. Podemos saber o que é adorar e servir como sendo ao Senhor. Isso exigirá que nos tornemos como aqueles que sabem ler a Sua Palavra, obedecem-Lhe, gastam tempo em oração e esforçam-se para circular tanto entre os perdidos e irmãos em Cristo como o Senhor faria. Ao entrar em comunhão com Ele, Ele deixará a marca do Seu próprio caráter em nós. Entre os judeus havia um remanescente que fielmente seguia o Senhor. Mesmo no dia do nosso Senhor havia alguns. Que possamos fazer do mesmo modo e seguir o seu exemplo. Que tudo seja “ao Senhor”.

Brian Guning – Revista “COUNSEL” – Traduzido por Jaime Crawford.

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