A Escola Dominical

Alguns poderão questionar até onde a escola dominical pode ser vista como uma parte integral da obra de evangelização. Posso tão somente dizer que é assim que, principalmente, a considero. Eu a vejo como um dos maiores e mais interessantes ramos da obra do Evangelho. Os professores da escola dominical, para as crianças pequenas e para os jovens, são obreiros na vasta seara do Evangelho, tanto quanto o evangelista ou o pregador do Evangelho.

Estou plenamente cônscio de que a escola dominical difere materialmente de uma pregação normal do Evangelho. Ela não é convocada e nem conduzida da mesma maneira. Há, se posso me expressar assim, uma união do pai, do professor e do evangelista na pessoa do obreiro da escola dominical. Naquele momento ele toma o lugar do pai, procura cumprir sua obrigação de professor, mas não perde de vista o alvo do evangelista – o inestimável alvo que é a salvação daquelas almas dos preciosos pequeninos que foram colocados aos seus cuidados. Quanto ao modo como ele atinge o seu fim – quanto aos detalhes do seu trabalho – e quanto aos variados meios de que ele pode lançar mão, é tudo de sua total e única responsabilidade.

Estou consciente de que há objeções à escola dominical como tendo a tendência de interferir na educação que os pais dão em casa. Mas devo confessar, querido irmão, que não encontro nenhum respaldo para tais objeções. A verdadeira finalidade da escola dominical não é pôr de lado a educação dos pais, mas complementá-la, onde existe, ou suprir sua falta onde não existe. Existem, como você e eu bem sabemos, centenas de milhares de crianças que não recebem nenhuma educação dos pais. Milhares não têm pais, e outros milhares têm pais que são piores do que nada. Veja as multidões que se aglomeram nas ruas, becos e praças de nossas grandes cidades e metrópoles, que mal parecem estar em um nível de existência acima do animal – sim, muitos deles mais parecem pequenos demônios encarnados.

Quem poderia se preocupar com todas essas almas preciosas, sem sentir-se motivado a incentivar de coração a todos os verdadeiros obreiros de escola dominical, e a desejar ardentemente que existissem maior fervor e energia em um trabalho assim tão abençoado? Quando digo verdadeiros obreiros de escola dominical, é porque temo que muitos se engajem na obra sem que sejam verdadeiros, autênticos, ou que estejam preparados para ela. Muitos, temo eu, a fazem como um trabalho que possui alguma atração religiosa e que fica bem aos membros mais jovens das comunidades religiosas. Muitos também a veem como um tipo de compensação para uma semana gasta com tolices, mundanismo e satisfação própria. Pessoas assim são mais um empecilho do que um auxílio a este sagrado serviço.

Há também muitos que amam a Cristo de coração e desejam servi-Lo na escola dominical, mas que não estão verdadeiramente preparados para a obra. São pessoas de pouco tato, energia, ordem e disciplina. A elas falta aquele poder de se adaptarem às crianças e de cativarem seus jovens corações, o que é tão essencial ao obreiro da escola dominical. É um grande erro supor que qualquer desocupado da praça esteja capacitado a cuidar deste ramo do trabalho cristão. Muito pelo contrário, é necessário que seja uma pessoa totalmente preparada por Deus para esta obra.

Se alguém perguntar: “Como poderemos conseguir pessoas assim capacitadas para este ramo do serviço evangelístico?”, a resposta é: da mesma maneira que se conseguem pessoas para todas as outras tarefas – por meio de uma oração fervorosa, perseverante e confiante. Estou plenamente persuadido de que se os cristãos estivessem mais motivados pelo Espírito de Deus para sentirem a importância da escola dominical – se apenas pudessem ter uma ideia de que ela é, assim como a obra de literatura e a pregação, uma parte integrante da mais gloriosa obra à qual somos chamados nestes derradeiros dias da história da cristandade – se fossem mais permeáveis à ideia da natureza evangelística e do objetivo da obra da escola dominical, seriam mais fervorosos e perseverantes em oração, tanto em sua comunhão a sós com o Senhor, como na assembleia, para que Ele pudesse levantar em nosso meio muitos fervorosos, devotos e dedicados obreiros para a escola dominical.

Era isto o que faltava, querido irmão, e que Deus possa provê-lo, em Sua abundante misericórdia! Ele é capaz e certamente está desejoso para fazê-lo. Mas quer que dependamos dele e que Lhe peçamos; e “é galardoador dos que O buscam” (Hb 11:6). Creio que temos motivos de gratidão e louvor pelo que tem sido feito pelas escolas dominicais durante os últimos poucos anos. Lembro-me bem da época quando muitos de nossos amigos pareciam se esquecer completamente deste ramo do trabalho. Ainda hoje há muitos que o tratam com indiferença, desanimando e desencorajando os corações daqueles que estão engajados nesta obra.

Mas não vou tratar disso aqui, pois meu assunto é a escola dominical, e não aqueles que a negligenciam ou que se opõem a ela. Agradeço a Deus pelo que tenho visto em forma de encorajamento. Com frequência tenho sido excessivamente animado e alegrado ao ver alguns de nossos amigos mais velhos levantando-se da mesa de seu Senhor e cuidando de arrumar os bancos nos quais os queridos pequeninos logo em seguida são alcançados com a doce história do amor do Salvador. E o que é que poderia ser mais belo, mais comovedor, ou mais moralmente adequado do que aqueles que, tão logo acabam de recordar o amor do Salvador em Sua morte, procuram cuidar de arrumar os bancos a fim de cumprir Suas palavras vivas: “Deixai vir os meninos a Mim”? (Mc 10:14).

Há muitas outras coisas que gostaria de acrescentar sobre o modo de trabalho da escola dominical; mas talvez seja melhor que cada obreiro esteja totalmente dependente do Deus vivo, para aconselhamento e auxílio quanto aos detalhes da obra. Devemos sempre nos lembrar de que a escola dominical, como a obra de literatura e a pregação, é, em sua totalidade, uma obra de responsabilidade individual. Este é um ponto de grande importância; e onde isto for totalmente compreendido e onde existir um real fervor de coração e um olho simples, creio que não existirá grande dificuldade acerca da maneira de cada um trabalhar. Um coração amplo e um propósito fixo em levar adiante a grande obra e cumprir a gloriosa missão que nos foi confiada irão, certamente, nos livrar da debilitante influência das caras feias e dos preconceitos – essas obstruções tão miseráveis a tudo o que é amável e de boa fama.

Que Deus possa derramar Sua bênção sobre toda a obra da escola dominical, sobre os alunos, professores e superintendentes. Que Ele possa também abençoar todos aqueles que estejam engajados, de um modo ou de outro, na instrução do jovem. Que Ele possa animar e dar refrigério aos seus espíritos, provendo para que colham muitos feixes dourados de frutos na área que lhes cabe: a grande e gloriosa seara do Evangelho!

Charles Stanley – Extraído de “Cartas aos Evangelistas”.

Leitura e Impressão