A Ceia do Senhor: Quem Participa?

Abordando um assunto importante e com consequências bastante práticas na vida diária das igrejas locais, este artigo escrito diversos anos atrás merece ser republicado. A pergunta que serve de cabeçalho deste artigo provoca diversas respostas entre o povo de Deus; não há consenso. Alguns chegam a acreditar que a Bíblia não fornece uma resposta clara neste ponto, deixando-nos, portanto, à vontade para fazer o que julgamos ser mais conveniente.

Nada, porém, pode ser mais longe da verdade. A Palavra de Deus é suficiente para a nossa orientação em todas as questões relacionadas ao serviço do Senhor. A Escritura é proveitosa “para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm 3:17). Não há razão para diferenças de opinião ou de prática.

Vejamos, portanto, o que a Palavra de Deus diz a respeito desta questão.

Atos 2:42

Esta passagem das Escrituras lança bastante luz sobre as atividades da primeira igreja plantada aqui neste mundo. Entre outras coisas, vemos uma perseverança no partir do pão, e o contexto imediato revela quem fazia isto.

Naquele dia de Pentecostes, Pedro pregou o Evangelho em Jerusalém e o Espírito Santo operou poderosamente. Muitos foram convencidos do seu pecado (verso 37), arrependeram-se e foram perdoados (verso 38 com 41). Em seguida, estas pessoas, salvas, foram batizadas (verso 41) e agregadas (ou acrescentadas). Elas perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações (verso 42).

Este quadro de atividades daquela primeira igreja mostra que os participantes da Ceia eram pessoas salvas, batizadas e perseverantes na doutrina dos apóstolos e na comunhão da igreja, no qual todos os que compunham a igreja participavam com regularidade.

I Coríntios 10:16-17

Estes versículos mostram algo do significado da Ceia. Além de ser uma recordação, este ato simboliza a nossa união com o Senhor Jesus Cristo, e também a nossa união uns com os outros. O cálice é a comunhão do sangue de Cristo, e o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo (verso 16). “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo (verso 17).

Portanto, aqueles que participam da Ceia estão mostrando sua comunhão uns com os outros, pois são um só corpo. Veja a coerência entre esta doutrina e a prática em Jerusalém (At. 2:42). Aqueles que perseveravam em comunhão uns com os outros, perseveravam também no partir do pão; a ideia de participar da Ceia sem estar em comunhão não aparece no Novo Testamento, e nem seria coerente. Esta declaração de comunhão está representada também pelo uso de um cálice e um pão.

Atos 20:7

Aqui vemos um exemplo da participação de irmãos que visitam a igreja. Estes visitantes eram irmãos que não hesitariam em perseverar na comunhão daquela igreja, caso continuassem em Troas. A demora de uma semana, quando estavam com tanta pressa (compare o versos 6 e 16 deste capítulo), é evidência suficiente disto, de sorte que a comunhão no partir do pão era sincera; não havia nenhuma incoerência.Neste incidente em Troas, portanto, vemos um exemplo da recepção de irmãos que estejam visitando na localidade. Estando em plena comunhão na igreja local onde residem, é perfeitamente lícito, e muito desejável, que participem com os irmãos no lugar onde estão visitando.

Um Problema Atual

A existência de denominações, porém, tem criado uma situação diferente em nossos dias. Seria muito difícil, hoje, achar uma localidade onde todos os salvos se reúnem ao nome do Senhor Jesus Cristo; estão divididos em denominações. Se um irmão está em comunhão em uma denominação, e decidir visitar os irmãos que se reúnem ao nome do Senhor Jesus Cristo, ele não poderia participar do pão e do cálice. Esta participação feriria os princípios que já observamos em I Cor. 10:16 e 17, pois estaria demonstrando uma comunhão que não existe.

O Lugar do Indouto

Tal irmão denominacional deve ser recebido com amor e alegria para “observar” a Ceia. Não poderá participar, mas deve ser incentivado a “observar”. Ele ocupa “o lugar do indouto” (I cor. 14:16 e 23), isto é, o de irmão que ainda não aprendeu o mal do sectarismo e a necessidade de reunir com os demais irmãos na localidade onde reside, simplesmente como cristãos, reunidos ao nome do Senhor Jesus Cristo.

Ronald E. Watterson

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